Filas para receber ossos de boi e carcaças de animais, miséria nas ruas e até famílias desenterrando frango estragado em lixão. Cenas como essas são cada vez mais comuns em um país com fome crescente diante da desastrosa política econômica do governo Bolsonaro. E uma das organizações que mais vem atuando para atenuar o problema é justamente alvo de ataque do presidente e seus apoiadores: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Através de suas cooperativas de agricultura familiar associadas e ajuda da população, o MST já doou, desde o início da pandemia do coronavírus, em março de 2021, mais de 6 mil toneladas de alimentos e 1.150.000 marmitas para pessoas em situação de vulnerabilidade em todo o país.
Os dados, divulgados pelo próprio movimento nesta sexta-feira (14), vieram após balanço da campanha Natal Sem Fome, em que cerca de 250 mil pessoas foram beneficiadas com doações de alimentos e ceias natalinas.
"Tudo isso só foi possível ser alcançado por meio da organização popular desenvolvida ao longo dos 37 anos de existência do MST, a partir da produção de alimentos das agricultoras e agricultores desde os seus quintais produtivos, hortas e roçados solidários. Mas também a partir da diversidade de produtos beneficiados pelas associações e cooperativas da Reforma Agrária Popular, como também de pontos de apoio da Rede de Armazéns do Campo e Cozinhas Solidárias", diz nota do movimento, que ressalta ainda as doações feitas pela população.
Além de alimentos e produtos da Reforma Agrária, o MST também distribuiu cerca de 17 mil livros nas comunidades dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. As publicações foram arrecadações doadas pela editora Expressão Popular, que contém edições próprias, como também livros publicados por editoras associadas, como a Editora 34, Editora Elefante e Nuestra America. Ao todo foram 70 títulos diversos fomentando uma Rede de Bibliotecas Populares.
"Em um país onde a política agrícola é dominada pelo agronegócio, que bate recordes de exportação e de lucro, enquanto cerca de 20 milhões de pessoas vão dormir e acordam com fome, e mais de metade da população sofre com algum grau de insegurança alimentar, é a demonstração de que essa política econômica é inviável", afirma Jailma Lopes, da direção nacional do Coletivo de Juventude do MST.
"Só é possível combater a pobreza e a fome no Brasil e transformar a vida do nosso povo com Reforma Agrária Popular, construindo condições de produção e acesso à alimentos diversificados e saudáveis, e com outras relações de produção, com a conservação dos nossos bens comuns da natureza", completa a dirigente.
Fome cresce no país
A fome no Brasil já atinge 26% da população. Segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (24) pela “Folha de S. Paulo”, 37% daqueles que tem renda mensal de até dois salários mínimos afirmam que a quantidade de comida em casa não foi suficiente para alimentar suas famílias nos últimos meses.
Entre as pessoas que estão desempregadas, mas à procura de emprego, 45% dizem passar fome. Já entre os que desistiram de encontrar uma ocupação, o percentual é de 34%.
O patamar mais elevado de pessoas afetadas pela falta de comida é encontrado no Nordeste (35%). Nas demais regiões do país, varia de 21% a 25%.
O levantamento também mostra que 15% dos brasileiros deixaram de fazer alguma refeição nos últimos meses por não ter comida em casa. O número sobe para 23% entre as famílias com renda mensal de até dois salários mínimos. Nas demais faixas, varia de 3% a 6%.
Além disso, 17% e 15% são pardos e pretos, respectivamente, enquanto 11% são brancos. A percepção de que a população não tem o que comer também aumentou. 89% dos entrevistados afirmam que, no período de pandemia, cresceu o número de pessoas que passam fome no Brasil.