Após o episódio de suposto racismo sofrido pela delegada negra Ana Paula Barroso, em uma loja da Zara em Fortaleza (CE) no último dia 14, entidades do movimento negro entraram com ação na Justiça do Ceará contra a rede de lojas pedindo 40 milhões de reais de indenização por dano moral coletivo.
Na ocasião, a delegada afirmou ter sofrido discriminação racial da parte de um funcionário da Zara que alegou “questões de segurança” para não a deixar entrar na loja.
Os autores da ação são as ONGs Educafro (Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes) e o Centro Santo Dias de Direitos Humanos.
Elas também são responsáveis por assinarem as ações por racismo em outros casos recentes e de grande repercussão nacional, como os que envolveram as empresas XP/Ável, Carrefour, Atakarejo, Studio Z/Pantanal Shopping e Assaí.
“Entendemos que isso tudo está dentro do contexto discriminatório que acompanhamos nacionalmente. Não é um ponto isolado da Zara. Existe uma posição do comércio, especialmente das lojas situadas em shoppings, em lugares 'sofisticados', em que há evidentemente uma política de branqueamento da clientela”, afirmou o advogado que representa as entidades na ação, Márlon Reis.
A ação, além dos 40 milhões de reais de indenização, também pede uma série de medidas a serem tomadas pela Zara:
- Revisão dos contratos de terceirização da segurança para exigir rigoroso treinamento dos seguranças e supervisão permanente das suas atividades;
- Revisão imediata dos protocolos de abordagem de segurança no interior das lojas;
- Apoio a instituições de ensino, liderado por pessoas negras, distribuídas pelo país para formação profissional de jovens negros e negras, com fornecimento de bolsas de estudo;
- Investimento de parte do lucro anual em instituições negras de combate ao racismo em diversos segmentos, como educação e cultura;
- Criação de um programa de ações afirmativas, com representatividade e proporcionalidade nas estratégias;
- Representação de pessoas negras em seus conselhos consultivo e administrativo;
- Contratação de auditoria externa independente para verificação permanente do cumprimento das obrigações a serem impostas.
De acordo com as informações do UOL, a Zara ainda não se posicionou sobre a ação judicial após contatos feitos pelo portal por meio de e-mail e WhatsApp.
Delegada fez boletim de ocorrência contra a loja. Zara se defende alegando problemas com máscara.
Ana Paula fez Boletim de Ocorrência que chegou à loja por volta de 21h20, consumindo um sorvete. Contudo, ao tentar entrar, foi barrada.
Representantes da Zara alegam que o motivo teria sido um sorvete que a delegada estava consumindo na ocasião e o uso inadequado da máscara de proteção contra a Covid-19.
No entanto, Ana Paula questionou o segurança, identificado no Boletim como Bruno, se o motivo para ser barrada seria o sorvete, mas não obteve resposta. Ela chamou outro segurança para indagar novamente se o sorvete seria o problema.
O homem respondeu que não e chamou o chefe de segurança do shopping no local. Este reconheceu a delegada por já ter trabalhado com ela previamente.
Ao final, Ana Paula falou com o gerente da loja que confirmou a versão da delegada e se desculpou pelo ocorrido:
"Ele se desculpou, tentou [se] justificar [dizendo] que tem amigos negros, amigos transexuais, disse que não tem preconceito. Eu respondi que aceitava as desculpas, mas o chefe de segurança me falou que precisava fazer um relatório, no qual constaria que o atendente confirmou minha versão. Só depois desse relatório e de falar com amigos e família é que ficou clara a situação de racismo na minha cabeça", afirmou Ana Paula em entrevista concedida ao jornal "O Globo". A delegada Anna Nery, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), investiga a ocorrência.