O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Frente Povo Sem Medo e o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo, organizam uma marcha contra a fome a ser realizada neste sábado (13), na capital paulista.
A mobilização também acontecerá em diversas outras cidades brasileiras e visa denunciar a volta da miséria no país em meio ao desemprego e constante alta nos preços dos alimentos.
"A ação acontece em um momento delicado para o país. Os preços sobem vertiginosamente dificultando a compra de alimentos básicos pelas famílias em situação de vulnerabilidade, que, de acordo com pesquisas, vem crescendo no Brasil desde o início da pandemia. Em 2020, 19 milhões de brasileiros foram diretamente atingidos pela fome e mais de 115 milhões sofreram com a insegurança alimentar, segundo inquérito conduzido pela Rede Penssan", diz a convocatória dos movimentos sociais para a marcha.
Em São Paulo, a manifestação terá início em frente à estação Paraíso do Metrô, às 13h, e seguirá em marcha até a Praça da Sé, no centro da cidade, onde será realizado um ato ecumênico. São esperados, ao todo, cerca de 20 mil manifestantes.
Além do Padre Júlio e de lideranças de movimentos sociais, estarão presentes políticos como Guilherme Boulos e o deputado federal Ivan Valente, ambos do PSOL.
"A marcha quer sensibilizar a sociedade para a situação de insegurança alimentar vivida por milhões de pessoas. Mais do que uma tragédia, a fome é projeto desse governo genocida. E é só com o fim do bolsonarismo que milhões de brasileiros poderão voltar a comer dignamente", disse Boulos à Fórum.
Haverá marchas contra a fome, também, nas cidades do Rio de Janeiro, Aracaju, Maceió, Recife, Ceilândia, Goiânia, Porto Alegre, Belo Horizonte e Montes Claros.
Volta da fome
Pesquisa divulgada em outubro pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN) revela que, no período abrangido pelo levantamento (5 a 24 de dezembro de 2020), apenas 44,8% dos lares tinham seus moradores e moradoras em situação de segurança alimentar, ou seja, 55,2% dos lares conviviam com a insegurança alimentar, um aumento de 54% desde 2018 (36,7%).
Em números absolutos, 116,8 milhões de brasileiros não tinham acesso pleno e permanente a alimentos, desses, 43,4 milhões (20,5% da população) não contavam com alimentos em quantidade suficiente (insegurança alimentar moderada ou grave) e 19,1 milhões (9% da população) estavam passando fome (insegurança alimentar grave).
O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 foi realizado em 2.180 domicílios nas cinco regiões do país, em áreas urbanas e rurais, entre 5 e 24 de dezembro.
De acordo com os pesquisadores, a fome é um problema histórico no Brasil, mas destacam que entre 2004 e 2013, o programa Fome Zero conseguiu reverter o quadro de miséria endêmica.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2004, 2009 e 2013, revelou uma importante redução da insegurança alimentar em todo o país. Em 2013, a parcela da população em situação de fome havia caído para 4,2% – o nível mais baixo até então. Isso fez com que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura finalmente excluísse o Brasil do Mapa da Fome que divulgava periodicamente.
Fome retorna aos patamares de 2004
Entre 2013 e 2018, segundo dados da PNAD e da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), a insegurança alimentar grave teve um crescimento de 8,0% ao ano. A partir daí, a aceleração foi ainda mais intensa: de 2018 a 2020, como mostra a pesquisa VigiSAN, o aumento da fome foi de 27,6%.
Ou seja: em apenas dois anos, o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave saltou de 10,3 milhões para 19,1 milhões.
Nesse período, quase 9 milhões de brasileiros e brasileiras passaram a ter a experiência da fome em seu dia a dia.