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MOVIMENTOS
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Em artigo de opinião, o jornalista Luiz Carlos Azenha defende que a luta dos movimentos deve ser, acima de tudo, anticapitalista. Leia a seguir.
DIVIDIR PARA GOVERNAR
Minha falta de paciência com os movimentos identitários, com a "sororidade" da turma das sweatpants da Killary, tem a ver não apenas com ignorância histórica.
Eu vi, com meus próprios olhos, como estes movimentos se transformaram em lobistas nos corredores do Congresso em Washington, arrecadando fundos essencialmente para garantir a própria sobrevivência, celebrando vitórias legislativas pífias que deram acima de tudo legitimidade ao sistema que oprime a todos.
Eu vi, com meus próprios olhos, como a direita sequestrou a pauta dos movimentos identitários, organizando os Gays com Bush, os Negros contra o aborto e os Indígenas pela exploração do petróleo em terras públicas.
A molecada que está chegando agora às vezes exibe um pavoroso déficit de conhecimento histórico que cabe combater.
Como diria minha amiga feminista Conceição Oliveira, uma feminista que sabe o que é luta de classes, é preciso historicizar.
É preciso lembrar que o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos evoluiu para um frentão anticapitalista que, nas ruas, teve um papel decisivo na contestação à guerra do Vietnã e no impeachment de Richard Nixon.
A "herança" institucional do movimento ficou nas mãos dos democratas, que trataram de:
-- criminalizar os movimentos mais à esquerda, de Malcolm X aos Panteras Negras, só recentemente reciclados pela indústria cultural norte-americana como 'agentes do bem', nos mesmos moldes de Nelson Mandela, que trocou o papel de revolucionário na África do Sul pelo de estadista que NÃO mexeu na essência do apartheid: a posse da terra fértil pela minoria branca. Neste aspecto e apenas neste, o ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, foi muito mais revolucionário que Mandela. É a única explicação para a sobrevivência dele no poder e o ódio expresso contra Mugabe por publicações ocidentais: Mugabe DE FATO tomou as terras dos brancos e as entregou a negros apaniguados dele.
-- promover as políticas identitárias, conduzindo o clamor das ruas para dentro da institucionalidade do Congresso. Como os democratas não rasgam dinheiro, optaram por um reformismo fraco que deu visibilidade e prestígio aos lobbies feminista, negro, dos indígenas, LGBT, etc. nos salões de Washington.
Na prática, foi o dividir para governar. Foi o descascar da cebola anticapitalista, retirando dela as camadas que não tinham identidade de classe com o núcleo "radical".
A hora de NÃO subordinar a luta anticapitalista aos movimentos identitários é agora. Que eles se expressem conscientes de que existe uma luta transformadora e que ela vai além das conferências nacionais promovidas pelo PT como forma de tirar o ar da panela de pressão -- ou do ativismo teatral do PSOL nas ruas.
O mundo enfrenta uma profunda crise política/social/econômica e a resposta ao que se vê no horizonte não pode ficar restrita ao direito de usar presidenta no lugar de presidente. O frentão, acima de tudo, deve ser anticapitalista!