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Agora é continuar nas ruas: 10 de maio em Curitiba para derrotar o golpe dentro do golpe
Por Julian Rodrigues*
Escrevo na noite de sexta-feira. Ainda não temos um balanço sistematizado e amplo do que aconteceu em todo o país. Mas o sucesso das mobilizações desse 28 de abri de 2017 é incontestável. A greve geral parou o Brasil e se multiplicou em centenas de ações e atos por todo o território nacional.
A greve geral da última sexta-feira de abril foi reconhecida como a maior das últimas décadas. Algumas causas óbvias para esse sucesso: o governo golpista de Temer tem apenas 4% de aprovação. O desemprego bate recorde de 14%. O país está mergulhado em recessão, sem perspectiva de crescimento. Boa parte do governo e do Congresso Nacional é investigada por corrupção.
Um ano depois do golpe judicial-midiático-parlamentar-empresarial parece que a ficha caiu. As massas trabalhadoras começam a se dar conta que a derrubada de Dilma foi uma manobra do andar de cima para tirar direitos dos pobres. É por isso que Lula lidera todas pesquisas, seja com 25% ou 45% dos votos.
A mídia golpista tentou primeiro ignorar. Depois, investiram na disputa da narrativa, vendendo a ideia de que a greve era “política”, para “defender Lula”, ou então “coisa de vagabundos”. O prefeito fake de São Paulo e pré-candidato à presidente tentou liderar o bloco anti-greve – e se enroscou em novas trapalhadas ao prometer “uber para todos” .
Redes e ruas. Paralisações e trancaços. A greve combinou a paralisação de categorias-chave como metroviários, rodoviários, professores, metalúrgicos com ações diretas nas principais avenidas e estradas do país. Atos e manifestações aconteceram de forma descentralizada durante todo o dia, não só nas capitais, mas em centenas de cidades em todo o país.
Por mais que tentem disfarçar, os golpistas e a Globo sentiram a força do movimento. O envolvimento de milhões de pessoas (mesmo quem não podia entrar em greve apoiou o movimento e fez de tudo para não trabalhar) marca um novo momento na conjuntura.
Não há base social para apoiar nem as reformas neoliberais nem a continuidade do governo Temer. As classes médias que se mexeram para derrubar Dilma estão frustradas com o PSDB, afundado em corrupção (a trinca de candidatos tradicionais tucanos derrete nas pesquisas) e também não apoiam o conjunto das radicais reformas neoliberais.
O que cresce entre as elites e classes médias conservadoras é o discurso fascista, a extrema-direita, a candidatura Bolsonaro. Ou a candidatura dos sonhos das elites paulistas que é o almofadinha “gestor”, “não-político”: o prefeito de São Paulo, um dublê de Trump, fenômeno nas redes sociais, marqueteiro de si mesmo e ultra-liberal.
Sem medo de errar: a adesão à greve geral surpreendeu. Superou as expectativas e a influência orgânica da Frente Brasil Popular, da Frente Povo Sem Medo, da esquerda e do bloco democrático-popular. A direita sentiu a pancada.
Pela primeira vez, desde que o bloco constituído pela mídia, banqueiros, judiciário, Ministério Público, Polícia Federal impôs uma ruptura institucional rompendo o pacto da redemocratização e rasgando a Constituição de 1988 o campo popular saiu da defensiva e mobilizou milhões de pessoas. Foi um verdadeiro “turning point”.
O futuro imediato do país está em disputa.
A sobrevivência do governo Temer se vincula à sua capacidade de aprovar o pacote de desmonte da previdência e dos direitos trabalhistas. Resta saber se deputados e senadores, PMDB/PSDB vão apoiar essas propostas anti-povo até o fim. Tudo indica que haverá mesmo eleições em 2018 – eles não tem força hoje para dar um golpe dentro do golpe.
Por outro lado, o braço golpista da Lava-Jato/Globo continua operando em alta para destruir Lula e impedir que possa ser candidato a presidente.
A candidatura Lula hoje é a principal alternativa contra o golpe , uma saída popular para reverter as medidas neoliberais e retomar uma agenda de crescimento econômico e fortalecimento das políticas sociais.
Assim, é com mais fôlego e esperança o campo popular vai continuar nas ruas. Além das manifestações do Dia do Trabalhador, o grande desafio é mobilizar milhares no próximo dia 10 de maio. Derrotar Moro e a Lava-Jato (mecanismos do empresariado, da mídia e dos EUA contra os interesses nacionais) é parte importante da batalha para enterrar o golpe.
Pela democracia, por Lula e pelo Brasil: impedir o golpe dentro do golpe. Continuar a greve geral em Curitiba. Foi um dia histórico!
*Julian Rodrigues é Militante do PT-SP, professor e jornalista. É ativista LGBT e coordenador Movimento Nacional Direitos Humanos (MNDH)
Foto: Ricardo Stuckert