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"Talvez este seja o momento mais oportuno para o movimento social fazer uma carta ao povo brasileiro", afirma dirigente, que espera união para barrar ameaças de retrocesso
Por Vitor Nuzzi, da Rede Brasil Atual
Passada a derrota na Câmara dos Deputados, os movimentos sociais representados pelas frentes de esquerda devem ampliar e estreitar suas ações conjuntas, avalia o presidente da CTB, Adilson Araújo. "Nós temos o dever de fazer a lição de casa. Tudo o que motivou a mobilização de milhões de brasileiros vai exigir mais da Frente Brasil Popular e da Frente Povo sem Medo. Esse segundo estágio vai exigir mais amplitude", afirmou.
Adilson lembra que entre os movimentos havia insatisfação com o governo, mas a defesa da democracia unia todos os grupos. Ao mesmo tempo, os gestos do Executivo "à direita" resultaram inúteis, já que o chamado se organizou para derrubá-lo. "A direita estava mesmo a fim de quebrar o governo", diz Adilson, lembrando que boa parte do empresariado brasileiro participa da campanha pelo impeachment – mas o mesmo setor se calou quando foi beneficiado pelas desonerações, enquanto recursos para áreas sociais eram contingenciados.
Os próximos passos, avalia o presidente da CTB, devem incluir uma "blitz" aos senadores, que vão julgar o pedido de impeachment. O dirigente também defende uma "grande assembleia nacional popular", talvez antes mesmo do 1º de Maio. "Talvez este seja o momento mais oportuno para o movimento social fazer uma carta ao povo brasileiro", afirmou. Para Adilson, os partidos de esquerda também precisam refletir sobre os motivos que levaram ao isolamento.
Segundo ele, as últimas ações mostram que as duas frentes se transformaram em uma só "frente de luta", em um exercício de maturidade. "Acho que a gente conseguiu sacudir a poeira, embora não tenhamos dado a volta por cima", diz Adilson, para quem o impeachment "não é um fim em si mesmo". "Vamos continuar a defender um projeto de governo. O objetivo (da oposição) é promover o retrocesso", diz o dirigente, lembrando que o atual Congresso tende a aprovar medidas de flexibilização e precarização das leis do trabalho.
Foco
Para o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, a preocupação neste momento é resistir a qualquer tentativa de retrocesso nas relações de trabalho. "Independentemente de quem ocupe a presidência da República nos próximos meses, ainda que a articulação pró impeachment consiga destituir a presidente legitimamente eleita, o foco do movimento sindical deve ser a luta pela manutenção de políticas como a de valorização do salário mínimo. Nenhum governante deve fazer uma reforma da Previdência Social a toque de caixa", disse Juruna, em artigo para o portal Vermelho.
A Força se manteve oficialmente neutra em relação ao impeachment. Seu presidente, o deputado federal Paulo Pereira da Silva, também presidente nacional do Solidariedade, é um dos líderes do movimento contra a presidenta Dilma Rousseff, mas há dirigentes da central contrários ao processo.
"Em meio aos debates sobre o impeachment, os trabalhadores junto com os empresários deram uma mostra real de que é factível apresentar alternativas para a crise econômica e, a partir daí, superar o impasse político. Esse conjunto de propostas está reunido no “Compromisso pelo Desenvolvimento”, que já tem a chancela de quase uma centena de entidades representativas de ambos os lados da luta de classes", lembrou Juruna, referindo-se a documento aprovado no final do ano passado. "Neste momento crucial da história do país, a construção dessa proposta de saída da crise política foi talvez a melhor notícia dos últimos tempos", afirmou, cobrando do vice-presidente, Michel Temer, que se pronuncie sobre esse tema.