No sorteio da Copa, a mulata Globeleza não tem vez

Há anos a Globo contribui para a construção de uma imagem estereotipada dos negros. Normalmente aparecem em papéis subalternos. Na melhor das hipóteses, são associados à dança, ao samba, à sensualidade. Como no concurso que premiou Nayara Justino

Fernanda Lima entre Cafu e Neymar (Foto: Fifa.com)
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Há anos a Globo contribui para a construção de uma imagem estereotipada dos negros.  Normalmente aparecem em papéis subalternos. Na melhor das hipóteses, são associados à dança, ao samba, à sensualidade. Como no concurso que premiou Nayara Justino Por Marcos Sacramento, no DCM [caption id="attachment_37658" align="alignleft" width="300"] Fernanda Lima entre Cafu e Neymar (Foto: Fifa.com)[/caption] Nayara Justino, vencedora do concurso Globeleza, disse que o prêmio vai mudar sua vida. Até março, vai ser a face e o corpo do Carnaval Brasileiro. Ficará famosa e ganhará algum dinheiro. Estudante, 25 anos, vai passar longe do sorteio das chaves da Copa do Mundo de 2014. Lá, mulata não tem vez. O evento seria apresentado por Camila Pitanga e Lázaro Ramos, mas a dupla teria sido vetada pela Fifa e substituída por Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert. Casal loiro, de olhos claros. A Rede Globo, dona dos direitos de transmissão da Copa na TV aberta, acatou a decisão da Fifa. Compreensível. Há anos a Globo contribui para a construção de uma imagem estereotipada dos negros.  Normalmente aparecem em papéis subalternos. Na melhor das hipóteses, são associados à dança, ao samba, à sensualidade. Como no concurso que premiou Nayara. O posto de Globeleza é a realização de um sonho para ela. “Desde menina dançava na frente do espelho, sonhando com esse dia”, disse em uma entrevista. Com seu trabalho, vai alimentar as ilusões de outras meninas que estão conhecendo o mundo pelo prisma Global. Essas menininhas assistiram à cerimônia do sorteio e viram que os apresentadores do evento têm uma cor bem diferente da delas. Perceberão, também, que as jornalistas do Jornal Nacional e a maioria das heroínas das novelas são brancas. Entre um programa e outro, assistirão a comerciais de xampu para mulheres com cabelos diferentes dos delas, fazendo-as acreditar que há algo de errado com o próprio cabelo. Em meio a essa profusão de rostos brancos e cabelos lisos surge a Globeleza para encantar essas crianças. Como uma fada dizendo às pequenas negras que elas também podem brilhar. Pela forma com que a mídia tem tratado o negro, com aumentos irrelevantes da presença na dramaturgia, no jornalismo e na publicidade, a Nayara vai herdar o papel das suas antecessoras e inspirar outras meninas a alimentar o clichê de que negra bonita só pode ser passista.