Na Cúpula dos Povos na Rio+20, o cacique Damião Paradzané cobra um posicionamento de autoridades para a retirada de não-índios da área
Por Maria Eduarda Carvalho
Vinte anos depois da Eco-92, a Terra Indígena Marãiwatsédé ainda não foi devolvido aos índios xavantes. Na Cúpula dos Povos na Rio+20, uma das atividades autogestionadas na tenda Chico Mendes, voltou a discutir o caso do território, ocupado por agricultores para o cultivo de soja. A mesa “Marãiwatsédé – Terra de Esperança” mobilizou um público de quase 300 pessoas para debater o tema.
No encontro, o cacique Damião Paridzané cobrou a Funai e o Ministério Público do Mato Grosso o cumprimento da promessa de reintegração feita na Rio 92. Além disso, uma decisão judicial do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, de maio deste ano, que revogou uma anterior, do próprio TRF1, e autorizou a retirada dos não-índios da área. “Agora eu quero perguntar a nossa procuradora [Márcia Zollinger, do Ministério Público do Mato Grosso] e ao Aluizio [Aluízio Azanha, da Funai]: Vocês vão garantir nesse momento a retirada dos fazendeiros, ou vão esquecer? Eu quero saber o que vai garantir que os fazendeiros saiam , ou vamos passar a Rio+20 sem resolver?”
Segundo Azanha, assessor da presidência da Funai, o prazo é de 20 dias para a apresentação do plano de desintrusão para a retirada dos fazendeiros da região. De acordo com ele, a Funai ainda não recebeu a notificação judicial para o início da contagem do prazo.
Em 1998, o governo brasileiro homologou as terras de Marãiwatsédé, mas até hoje a retirada dos fazendeiros não aconteceu, e as atividades de produção de carne e grãos continuam. O território Xavante localizado entre os municípios de São Félix do Araguaia e Alto da Boa Vista, norte do Mato Grosso, tem 935 índios na sua aldeia e é atualmente a terra indígena mais devastada da Amazônia. “Esta é uma luta por dignidade, do povo brasileiro contra a hipocrisia, a demagogia”, comenta Marcos Palmeira sobre o movimento.
O encontro contou também com as Marcos Apurinã, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Marcio Astrini, do Greenpeace, Ivar Busatto, da Operação Amazônia Nativa (Opan), Márcia Zollinger, do Ministério Público do Mato Grosso e os antropólogos Iara Ferraz e João Pacheco do Museu Nacional.
Na atividade, foi exibido o curta-metragem de Marcelo Bichara “Homem branco em Marãiwatsédé”, e ainda houve apresentações de danças e cantos rituais, executados pelos 13 indígenas que vieram ao Rio de Janeiro representando a aldeia.
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