Em Santos (SP), Mães de Maio acompanham trabalho pericial que pode indicar assassino de uma das 493 vítimas
Por Igor Carvalho
Por volta das 14h, da última quarta-feira (13), foi exumado o corpo do gari Edson Rogério Silva dos Santos, no cemitério Areia Branca, em Santos (SP). Ele foi assassinado em maio de 2006, por grupos de extermínio da Polícia Militar, segundo o movimento “Mães de Maio”. O principal objetivo da exumação é retirar uma bala que ficou alojada na coluna cervical de Edson e compará-la com uma arma apreendida com um policial, em Cubatão (SP).
“Um corpo não pode ser enterrado com a principal prova do crime alojada em sua coluna”, disse Débora Maria da Silva, mãe de Edson. O erro do Instituto Médico Legal de Santos (IML) forçou a família a solicitar ao Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) que a exumação fosse feita pelo IML de São Paulo. O corpo passará por uma radiografia para localizar a bala.
“Essa exumação é uma vitória.Estamos diante de um crime que o Ministério Público não investiga e que a União se nega a investigar”, afirmou o deputado estadual Adriano Diogo (PT). “Foram 493 pessoas assassinadas em menos de 15 dias, esse número não existe nem em guerra. Não podemos nos calar”, completou. As “Mães de Maio” acreditam que essa “vitória” possa estimular a federalização dos crimes, assim sendo, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal passariam a investigar os assassinatos.
Um passo importante pode ser dado na Comissão da Verdade nacional, que investiga as atrocidades cometidas no período de ditadura militar. Segundo o deputado Adriano Diogo, que participou de uma reunião da comissão, em Brasília, a ideia é incorporar os crimes de maio de 2006 à comissão. “Entendemos que eles só existiram por conta da impunidade dos crimes da ditadura militar”, destacou o parlamentar. Documentos já foram enviados à capital nacional para “acelerar o processo.”
O defensor público Antonio Mafezzoli também esteve no cemitério Areia Branca e disse estar esperançoso sobre a federalização. O defensor encaminhou pediu um “deslocamento de competência” ao Procurador Geral da República, para que isso aconteça. Segundo Mafezzoli, o pedido já completou dois anos de espera sem qualquer resposta.
Débora também espera que o caso seja levado a Brasília. “Não nos curvamos para a história contada pelo Estado de São Paulo, vamos continuar lutando para que pobre tenha direito à justiça. A ditadura acabou, mas esqueceram de avisar a polícia.”