Logo após o anúncio do resultado das eleições em São Paulo, com Ricardo Nunes (MDB) sendo reconduzido ao mandato, a Globo festejou com editorial e uma série de "análises" de colunistas a vitória do governador Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), que vem sendo cortejado pela família Marinho, que articula lançar o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) como candidato da terceira via contra Lula em 2026.
A sujeira do governador paulista, que fez corar Pablo Marçal (PRTB) ao implicar orientação de votos do PCC a Guilherme Boulos (PSOL) em meio à votação neste domingo (28), foi logo deixada de lado e os irmãos Marinho festejaram em editorial do jornal O Globo as "notícias" das urnas, que segundo o clã, "trouxeram más notícias a Lula e Bolsonaro".
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"Com a vitória [de Nunes], Tarcísio se fortalece como pré-candidato na corrida presidencial de 2026", diz o texto "opinativo" do veículo, porta-voz político dos interesses da Globo.
Em seguida, a família Marinho dá as diretrizes pensando em 2026 para cooptar a frente ampla para o projeto da chamada "terceira via".
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"Estabelecida a nova correlação de forças nas prefeituras, com o avanço de partidos de direita e centro-direita e o enfraquecimento da esquerda, é hora de o Brasil deixar para trás o clima bélico que dominou as campanhas e se unir em torno das agendas prioritárias para o país: a conclusão da reforma tributária, o controle de gastos, o combate ao crime organizado, melhorias na saúde e na educação", diz a Globo, que, como biruta de aeroporto, defende ao mesmo tempo o corte de investimentos e "melhorias" na saúde e na educação.
"Colonistas"
O clã Marinho ainda escalou Vera Magalhães, Lauro Jardim e Malu Gaspar para fazer análises torcendo para que Tarcísio de Freitas deixe de lado o coturno e vista o sapatenis para enfrentar Lula em 2026.
"Lula, que completou 79 anos no dia da eleição e recebeu de presente das urnas uma sonora derrota, tem pouco mais de um ano para decidir se disputa a reeleição", decreta Jardim ao analisar "as derrotas de Lula e Bolsonaro em 2024 e o que isso significa para a sucessão de 2026".
Em seguida, sem vergonha, o colonista - como diria o saudoso Paulo Henrique Amorim - revela os desejos mais íntimos dos patrões ao analisar as "derrotas" de Bolsonaro.
"Foi derrotado por Ronaldo Caiado com quem tentou medir forças em Goiás. Viu emergir no cenário Pablo Marçal, um sujeito ainda mais histriônico do que ele, que o desafiou e virou um personagem nacional disputando parte do eleitorado antes cativo do capitão. Como se não bastasse, deixou Tarcísio de Freitas ser o grande padrinho da vitória de Ricardo Nunes em São Paulo", diz e decreta em seguida.
"Tarcísio é hoje o candidato preferido do establishment para disputar a presidência daqui a dois anos".
Após torcer o nariz para Boulos em várias sabatinas com o candidato de Lula durante as eleições, Vera Magalhães festejou: "Nunes e Tarcísio falam em ‘futuro’ ao celebrar vitória".
Oriunda das catacumbas do tucanato paulista, a mesma origem de Nunes, a colunista revela que a "campanha do emedebista foi tratada nos bastidores como ensaio de uma nova frente ampla", sem citar, no entanto que os patrões fazem parte desses bastidores.
"O fenômeno de uma grande união suprapartidária elegeu Lula contra Jair Bolsonaro em 2022. Apenas dois anos depois, no entanto, o presidente não cuidou para que as alianças nas quais o PT figurou nos pleitos municipais tivessem uma configuração mais centrista, como aquela que levou nomes como Simone Tebet, João Amoêdo e Armínio Fraga ao seu palanque. Agora, a direita quer usar a vitória em São Paulo como ponto de partida para atrair essas forças para o seu quadrado", diz a colunista, afagando antigos quadros que eram alinhados ao tucanismo e aos desejos neoliberais da Globo.
"Será Tarcísio o nome à frente desse projeto?", indaga, dando ela mesma a resposta: "ninguém ousou dar um passo ainda mais explícito nessa direção nas primeiras horas depois da vitória na mais imprevisível eleição em São Paulo desde o advento do segundo turno, após a promulgação da Constituição".
Pedindo, mais uma vez, a "reflexão na esquerda" para "se abrir para novas visões de mundo", Vera Magalhães diz que as antigas receitas da "centro-direita" - entenda-se entrega de patrimônio e serviços públicos para a iniciativa privada [alô, Enel] e a entrega de políticas públicas para ONGs e empresas [alô, PCC] - seriam mais eficientes para "mudar a vida dos mais pobres".
"A vitória maiúscula de Nunes em todas as periferias de São Paulo é citada pelos coordenadores de sua campanha como uma demonstração de que as políticas públicas dessa centro-direita mais pragmática seria mais eficiente em mudar a vida dos mais pobres que as da esquerda lulista", diz a colunista, que só não revela que essa mudança sempre foi para pior.
Por fim, Malu Gaspar, diz que esse "futuro" prevista pela colega "passa por acomodação entre Bolsonaro e Tarcísio".
"O governador sabe que a vitória em São Paulo reforça seu potencial para 2026, mas não pretende nem decidir-se pela candidatura e nem comprar briga com Bolsonaro antes da hora", diz a jornalista, ironizando em seguida a esperança de Bolsonaro em reverter a inelegibilidade - estratégia que só deve se complicar com as denúncias que enfrentará em novembro.
"O ex-presidente ainda acredita realmente que pode reverter a inelegibilidade e, enquanto essa possibilidade não for definitivamente sepultada —o mais provável hoje —, não vai ser Tarcísio quem a desafiará", escreve.
A jornalista de bastidores do clã Marinho ainda diz, em outro artigo, que a declaração criminosa de Tarcísio para ligar "Boulos ao PCC" em meio à votação foi apenas uma "derrapada desnecessária".
Em um terceiro texto, Malu Gaspar faz uma análise da vitória de Tarcísio no Estado e lista os partidos que já sinalizam adesão à terceira via tarcisista em 2026:
"A conta que vem circulando no Palácio dos Bandeirantes inclui 205 prefeitos do PSD, 104 do PL de Bolsonaro, 82 de seu partido, o Republicanos, e 65 do MDB do prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes. Os demais prefeitos integram outros partidos da base do governador, como o PP, o União Brasil e o Podemos", diz.
Por fim, a colunista afaga Gilberto Kassab, presidente do PSD, a quem a Globo estendeu tapete vermelho - com três em entrevistas em menos de 24 horas - após a sigla tirar do MDB a alcunha de comandar a maioria das prefeituras do Brasil logo no primeiro turno.
"A permanência do presidente da sigla, Gilberto Kassab, na Secretaria de Governo – chamado de “primeiro-ministro” pela influência política do cargo – também é outro fator que irrita Bolsonaro. Tarcísio, por outro lado, tem sinalizado que a aliança com o PSD veio para ficar", diz na festa da Globo para alçar o governador paulista na cabeça da terceira via anti-Lula em 2026.