Difícil entender. Ontem, dia 8 de janeiro, a tentativa de instaurar uma ditadura militar no Brasil completou um ano. No entanto, a Folha escolheu uma manchete que não tinha nada a ver com o fato, exatamente o que aconteceria caso o golpe tivesse sido bem sucedido e a censura instaurada no Brasil.
"Autismo custa mais a planos de saúde o que câncer, diz setor". Esta a manchete principal da Folha de ontem.
Em vez de estar "de rabo preso com o leitor", como já foi seu slogan, a Folha assume o lado dos planos de saúde e faz uma "queixa deles".
E até nisso são mais realistas que o rei. Pois a própria FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar) diz que o problema principal é outro:
Segundo Vera Valente, diretora da FenaSaúde, o setor tem enfrentado casos de fraudes praticadas por clínicas que estão pagando planos de saúde em nome de pacientes para solicitar reembolso de tratamentos com sobrecarga de horário, entre outras distorções.
"O que questionamos são os abusos. A maioria dos beneficiários, que age corretamente, está pagando a conta de quem faz abusos. Há situações escancaradamente fraudulentas. Há casos de paciente com 82 horas de terapia semanal. É inviável. Um paciente de 11 anos apresentou 154 solicitações de reembolso em pouco mais de dois anos. Só em psicoterapia foram 1.800 sessões, um total de R$ 550 mil", diz Valente.
Como diz a diretora do FenaSaúde, na própria matéria da Folha, o problema não está nos autistas, mas nas fraudes. E isso quem tem que resolver são os planos de saúde aperfeiçoando seus processos.
Manchetar contra os autistas e seus familiares é covarde, pois são as partes mais fracas no processo. E, como vimos na matéria, a parte principal do problema são as fraudes, que devem ser combatidas pelos próprios planos de saúde em seus processos de gestão. Os autistas e seus familiares não podem ser responsabilizados por isso.
Por outro lado... Faltou a Folha informar
As reclamações contra os planos de saúde aumentaram quase 50% em 2023, segundo a Agência Brasil, citando dados divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Segundo a agência reguladora, o número de reclamações assistenciais e não assistenciais em 2023 superou os três anos anteriores em todos os meses do ano e chegou ao maior patamar em agosto, com 36.799 notificações de usuários dos planos de saúde. As reclamações referentes à assistência dos planos somaram 82,7% das notificações registradas pela agência até outubro.
Os dados da ANS permitem calcular o Índice Geral de Reclamações, que aumenta conforme a insatisfação dos usuários. Segundo a agência, os planos de assistência médica tiveram 55,1 reclamações para cada 100 mil beneficiários. Essa proporção era de 24,1 em 2020; de 30,2 em 2021 e de 36,8 em 2022.
A manchete da Folha no dia do golpe foi um jabuti em cima da árvore, provavelmente colocado lá pelo departamento comercial em busca de anúncios.
Ou será que, mais que isso, é propaganda disfarçada de jornalismo como na parceria da Folha com o prefeito Ricardo Nunes?
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