LUTO

Morre o jornalista Palmério Dória, aos 74 anos, em São Paulo

Partiu vencedor no dia que marca o aniversário do golpe de Estado contra o qual lutou durante toda a vida

Palmério Dória.Morre o jornalista Palmério Dória, aos 74 anos, em São PauloCréditos: Reprodução
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Morreu neste 31 de março, aos 74 anos, o jornalista Palmério Dória. Por ironia do destino, justamente na data em que setores obscuros da sociedade brasileira comemoram um golpe de Estado do qual Palmério foi um dos grandes brasileiros a levantar-se contra.

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A notícia foi dada pela sua sobrinha Érica Vasconcelos nas redes sociais. “Queridos amigos, familiares e leitores do meu tio Palmério Dória. Hoje ele escreveu sua última linha, colocou um ponto final numa história linda, cheia de emoções, repleta de amigos e admiradores. Para a eternidade ficam os livros e as memórias”, escreveu.

Palmério se foi vítima de septicemia e passou os seus últimos dias no Hospital Premier, especializado em cuidados paliativos, na zona sul de São Paulo. “O Hospital Premier lamenta informar a morte do jornalista Palmério Dória de Vasconcellos, aos 74 anos. Tivemos o privilégio de conviver com Palmério ao longo dos últimos sete anos. Ele faz parte da nossa história e da nossa comunidade. Palmério viveu bem até o último suspiro. Morreu tranquilamente, confortável, nesta sexta-feira, dia 31 de março, em decorrência de uma septicemia”, diz o hospital em nota.

Nas redes sociais, amigos de Palmério de longa data, como o jornalista Dácio Nitrini, prestaram homenagens a Palmério.

“Palmério Dória, amigo há 50 anos, jornalista, escritor e grande frasista, partiu de vez. E, como não existe coincidência, nos deixa na data do golpe de 64, contra o qual lutou com palavras duras, inteligentes. Antifascista de carteirinha, foi embora vitorioso. Trabalhou com brilho nos grandes veículos e deixou sua marca de criatividade nos pequenos que faziam grande resistência à ditadura. Éramos da velha turma do jornal EX. Quem não conheceu, dê um Google”, escreveu.

Durante a ditadura, Palmério - que é nascido em Santarém, no Pará - trabalhou em uma série de jornais alternativos no Rio de Janeiro, os chamados “nanicos” ou “underground”; os únicos que reuniam as condições necessárias (ou a falta delas) para falar a verdade sobre o que acontecia no país. Alguns deles foram Bondinho, Flor do Mal, Movimento, Opinião e o EX, citado por Nitrini. Depois foi para o Pasquim, os mais famoso e estruturado dos jornais alternativos, onde ficou conhecido por seu raciocínio rápido, humor irônico e afiado, além de frases que saltavam aos olhos.

Destacou-se e anos depois mudou-se para São Paulo, onde trabalhou para a Folha, o Estadão e a Revista Caros Amigos. Também foi chefe de reportagem da Rede Globo e diretor da Revista Sexy.

Desde o golpe de 2016 contra a ex-presidente Dilma Rousseff, atuou nas redes sociais como comentarista, sempre exibindo suas características mais marcantes. Ainda foi autor de uma série de livros, o mais conhecido chama-se ‘Honoráveis Bandidos – Um Retrato do Brasil na Era Sarney’ e trata da ascensão da família do ex-presidente José Sarney ao poder.