INTIMIDAÇÃO

Antes de Demori, Estadão já havia tentado intimidar outro jornalista com exposição do salário

Repórter do jornal paulista buscou junto à TV Brasil detalhes do salário de Leandro Demori por críticas do jornalista à matéria sobre a "Dama do tráfico"; George Marques, da Secom, passou por situação parecida

Capa do jornal Estadão.Créditos: Reprodução
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Buscar e expor salários de profissionais da imprensa críticos às suas matérias parece ser um modus operandi do jornal Estadão. Nesta quinta-feira (16), o jornalista Leandro Demori foi às redes denunciar que está em curso um processo de intimidação do periódico paulistano pelas críticas que ele vem fazendo ao factoide criado para atacar Flávio Dino, relacionando o ministro da Justiça a Luciane Barbosa Farias, presidente da Associação Instituto Liberdade do Amazonas e esposa de  Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, que seria ligado Comando Vermelho. 

Demori, que trabalha na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), empresa estatal de comunicação, afirmou que Tácio Lorran, um dos autores da primeira reportagem no Estadão, pediu à TV Brasil, comandada pela EBC, "detalhes sobre meu salário".

"Depois que eu publiquei minha avaliação sobre esse caso da “Dama do Tráfico do Amazonas”, um dos repórteres do Estadão, que assinou a primeira reportagem do caso, pediu à TV Brasil detalhes sobre meus salário. Chama atenção que Tácio Lorran reaja a uma crítica pontual a seu trabalho – que fiz de forma aberta, sem pessoalizar – com o que, me parece, uma tentativa tosca de retaliação, pra ficar em termos republicanos. Qual o interesse na minha remuneração? Isso é pauta?", indaga Demori na rede X, antigo Twitter.

"Aparentemente há um jovem repórter se inspirando em velhas práticas – sob a guarda de seus editores. Se acham que vão me intimidar, entrem na fila", afirmou ainda.

Essa não é a primeira vez que um profissional do Estadão se utiliza do salário de um jornalista crítico para tentar intimida-lo. Em outubro deste ano, o jornalista George Marques, que trabalha como assessor na Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), passou por situação parecida

"Expediente vulgar"

Andreza Matais, editora-executiva do Estadão, foi às redes sociais no dia 4 de outubro para rebater críticas a uma matéria publicada no seu jornal sobre o presidente Lula, supostamente, ter coordenado um empréstimo bilionário para a Argentina. A informação havia sido desmentida.

Revoltada com a acusação de ter divulgado fake news, ela chegou a expor o salário de George Marques, assessor da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), ao comentar postagem em que o servidor publica as informações que corrigem a barrigada da sua equipe.

“Atenção! A decisão de empréstimo de 1 bilhão de dólares do CAF à Argentina foi tomada pela diretoria do banco, composta por países membros, e não teve interferência do presidente Lula. Verifique os fatos e espalhe a verdade”, escreveu o servidor no X (antigo Twitter). 

Matais comentou: “11.306,90”, o salário do assessor. Revoltado, George questionou: “O que significa isso?”

Mas recebeu o silêncio da editora-executiva. Foi respondido por um internauta bem-humorado: “que tu mereces um aumento, parabéns pelo trabalho”.

"O que ocorreu não passou de insistência na falta de profissionalismo. Um jornal supõe uma ligação do presidente para uma ministra acerca de uma medida que já havia sido tomada um mês antes. Elucidamos o equívoco sem recorrermos à censura ou descreditar o meio. Essa revelação do meu salário é só um expediente vulgar. O ato falho da jornalista, que pressupõe que qualquer pessoa possa trabalhar assessorando instituições e personalidades, revela sua filosofia de trabalho", declarou George Marques em nota enviada à Fórum.

"Quando questionada por mim numa rede social, a diretora de redação primeiro subestimou a própria função de assessoria de imprensa antes de expor meu salário. Essa prepotência de uma chefia de redação perante os colegas assessores é a demonstração máxima da falta de profissionalismo desse episódio", avaliou Marques.