O jornal Folha de S.Paulo, comumente referido como o mais influente e estruturado veículo de mídia impresso do Brasil, trouxe uma foto em sua primeira página nesta quinta-feira (19) que gerou indignação em vários setores dos campos político e social brasileiros. Nela, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece como se estivesse atrás de um vidro onde há um dano parecido com um buraco de disparo de arma de fogo, passando a impressão de que o petista foi baleado, na altura do peito, do lado esquerdo, enquanto sorri.
A legenda da imagem, que causa ainda mais confusão, diz que “a foto foi feita com múltipla exposição mostrando Lula ajeitando a gravata em vidro avariado após ataques". A manchete que completa a chamada é “No foco de Lula, presença militar no Planalto é recorde”, não deixando claro qual era exatamente a conexão entre imagem e texto.
Inúmeros políticos, acadêmicos, jornalistas e outras figuras foram às redes indignados reagir à capa. “Que irresponsabilidade, que perversidade, que baixeza, que falta de leitura de realidade e de conjuntura e de risco essa montagem do Lula que remete a tiro no peito na Folha”, escreveu a jornalista Nina Lemos, de Berlim.
“Bom dia! Esta é a foto da capa da Folha de hoje. Há algum desejo recôndito? Apito de cachorro?”, disse Leonardo Attuch, editor-chefe do site Brasil247, enquanto a filósofa Marcia Tiburi postou o questionamento: “O que a Folha pretende com essa montagem? Incitar o ódio contra Lula? Sugerir que ele leve um tiro no coração? O responsável por essa montagem deve ser intimado a se explicar! Trata-se de uma montagem criminosa, pois sugere um tiro no coração”.
“Não dá pra acreditar nessa capa da Folha”, manifestou-se o jornalista Leandro Demori, então no The Intercept à época do escândalo da Vaza Jato.
A autora da imagem, a repórter fotográfica Gabriela Biló, foi ao Twitter se pronunciar sobre a repercussão e as críticas após o uso de seu material na edição da Folha desta quinta (19).
“Como eu já previa, o hate veio forte com essa foto do Lula: na foto tem quem veja morte, tem quem veja resistência, só um trincado, tem quem veja um sorriso atrás, o Lula arrumando a gravata. Não vou dizer o que você tem que ver. Fotojornalismo não é feito pra agradar. Minhas fotos são o espelho do meu olhar. Essa só é a forma como eu vejo o mundo. Você pode ter o seu olhar, discordar do meu, tudo bem, o mundo é plural. Sendo assim, vou ignorar absurdos como "apaga isso", entre outros hates, especialmente depois do dia 08/01”, disse Gabriela.