Após decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU, que decretou a violação de seus direitos políticos, Lula (PT) estampa a capa da mais recente edição da revista Time, uma das mais respeitadas no mundo, que foi divulgada nesta quarta-feira (4).
A publicação diz que em seu "segundo ato", Lula está retornando do "exílio político com a promessa de salvar a nação".
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"Saindo do exílio político como um cavaleiro branco, Lula afirma que pode salvar o Brasil desse pesadelo. Mas pode não ser mais o mesmo país que ele governou. Sua economia está se recuperando da pandemia, com inflação de dois dígitos e nenhum boom de commodities no horizonte. Uma crise política de seis anos dividiu amargamente a sociedade. As brechas geopolíticas que o Brasil já atravessou se ampliaram, e o Ocidente está em uma nova guerra quente e fria com a Rússia", diz a publicação.
Na entrevista à publicação, Lula faz um comparativo da sua atual situação com a do jogador de futebol americano Tom Braddy, que é casado com a modelo brasileira Gisele Bündchen.
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“Ele é o melhor jogador do mundo há muito tempo, mas em cada jogo, seus fãs exigem que ele jogue melhor do que no último jogo. Para mim, com a presidência, é a mesma coisa. Só estou correndo porque posso fazer melhor do que antes", afirma.
Jornada do Herói
Na reportagem, a Time compara a trajetória de Lula à "jornada do herói" - estrutura de narrativa usada na literatura e adotada em filmes de Hollywoood - e lembra as superações do ex-presidente: "uma criança nascida na pobreza se muda para a cidade grande, sobe para liderar um sindicato e depois se torna o presidente mais popular da história do Brasil moderno".
Após falar da condenação e prisão injustas, a Time fala da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que em 2021 anulou todas as condenações por corrupção de Lula.
"A decisão bombástica colocou o Brasil a caminho de um confronto entre o esquerdista Lula e o atual presidente de extrema direita Jair Bolsonaro nas eleições de outubro de 2022. As pesquisas agora colocam o desafiante em 45% e o titular em 31%, com mais candidatos centristas praticamente fora da disputa", diz a Time.
Lula conta, então, a reviravolta aos 76 anos, que o fez voltar à política. "“Na verdade, eu nunca desisti. A política vive em cada célula do meu corpo, porque eu tenho uma causa. E nos 12 anos desde que deixei o cargo, vejo que todas as políticas que criei para beneficiar os pobres foram destruídas”, disse.
A publicação ainda brinca que Lula parece um "avô jovial" ao dizer, durante a entrevista em "um estúdio na sede paulista de seu Partido dos Trabalhadores (PT)" que ninguém sabe como projetar uma cadeira confortável hoje em dia.
Lula diz que "o sonho do Brasil que projetou durante a sua presidência" está em frangalhos e a revista enumera a destruição realizada por Jair Bolsonaro (PL).
"Por meio de programas sociais progressistas, pagos por um boom de produtos brasileiros como aço, soja e petróleo, o governo Lula tirou milhões da pobreza e transformou a vida da maioria negra e da minoria indígena do país. Bolsonaro deu um golpe em tudo isso, descartando políticas que ampliavam o acesso de pessoas pobres à educação, limitavam a violência policial contra comunidades negras e protegiam terras indígenas e a floresta amazônica. A COVID-19 já matou pelo menos 660.000 brasileiros. O número, o segundo maior do mundo, provavelmente foi agravado por Bolsonaro, que chamou o vírus de 'gripezinha'".
A revista estadunidense ainda afirma que "a jovem democracia brasileira se sente menos que segura" e compara a ameaça constante de golpe do presidente brasileiro a "um eco do comportamento do presidente Donald Trump antes das eleições de 2020 nos EUA".
Trajetória de Lula tem qualidade mítica, diz Boulos
Ouvido pela Time, o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos (PSol-SP), diz que "a trajetória de Lula tem uma qualidade mítica muito forte para todos que lutam por justiça social no Brasil”.
A reportagem ainda diz que "a má gestão da pandemia de Bolsonaro e os ataques às instituições democráticas permitiram a Lula comandar uma ampla coalizão de unidade", citando Geraldo Alckmin (PSB), que será seu vice na chapa.
"Outros ex-críticos estão apoiando sua campanha, incluindo Felipe Neto, um popular YouTuber que foi uma voz feroz contra o PT durante a Lava Jato".
"Gostaria de me opor a um líder legítimo; Não aguento mais fazer isso contra um assassino", disse Felipe Neto à publicação.
Lula ainda faz uma defesa de sua visão econômica, que ainda hoje causa receio no sistema financeiro.
"Sou o único candidato com quem as pessoas não devem se preocupar [com a política econômica]. Porque já fui presidente duas vezes. Não discutimos políticas econômicas antes de vencer as eleições. Primeiro, você tem que ganhar as eleições”, disse Lula, emendando: “Você tem que entender que em vez de perguntar o que vou fazer, apenas olhe para o que eu fiz.”