O jornal Folha de S. Paulo subiu o tom contra o presidente Jair Bolsonaro. Em editorial divulgado nesta quinta-feira (5), o periódico paulistano chama o chefe do Executivo de "ensaio de ditador", cobra o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sobre a abertura de um processo de impeachment, e critica a "inação" do procurador-geral da República, Augusto Aras.
Segundo o jornal, Bolsonaro "comete desvarios em série na sua fuga rumo à tirania e precisa ser parado pela lei que despreza".
O editorial da Folha vem em meio à intensificação dos ataques de Jair Bolsonaro às instituições e seu ímpeto de preparar um golpe ao questionar a legitimidade do sistema eleitoral brasileiro.
"Há loucura e há método na sequência de investidas contra a democracia e o sistema eleitoral, ao passo que o país é duramente castigado pela ausência de governo. São demasiadas horas perdidas com mentiras, picuinhas e bravatas enquanto brasileiros adoecem, morrem e empobrecem", pontua o texto.
Ao longo do artigo, o periódico fala sobre a perspectiva de queda no crescimento econômico, "danos" observados nas áreas da saúde, educação e meio ambiente e os ataques de Bolsonaro às instituições.
O jornal ainda enaltece a postura do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF), que incluíram o presidente em inquéritos para apurar fake news e a conduta do chefe do Executivo com relação à tese de "fraude" nas eleições. A publicação pondera, contudo, que Lira e Aras "não entenderam o jogo".
"Por ingenuidade ou interesse equivocado, associam-se a uma figura que se pudesse fecharia o Congresso, o Ministério Público e o Supremo. Falta ao procurador Augusto Aras perceber que a vaga que ambiciona no STF de nada valeria em um regime de exceção; ao deputado Arthur Lira (PP-AL), que a pusilanimidade de hoje não seria recompensada com mais poder em uma ditadura", atesta a Folha.
Na sequência, a publicação cita diretamente o impeachment. "A deliberação sobre os pedidos de impeachment torna-se urgente. Da mesma maneira, os achados e conclusões da CPI da Pandemia devem desencadear a responsabilização do presidente. À Procuradoria, cumpre exercer a sua prerrogativa de acionar criminalmente o chefe do governo", pontua o artigo.
Confira a íntegra aqui.
Fux sobe o tom
Apesar de Fux ter reagido aos ataques do presidente, Bolsonaro, em sua live desta quinta-feira, pareceu não ter se intimidado. Inicialmente, tentou parecer parcimonioso e reclamou de “problemas, ruídos e incompreensões que vem de um lado da Praça dos Três Poderes, onde 2 ou 3 se arvoram em ser o dono da verdade”.
Na sequência, o chefe do Executivo voltou a subir o tom e a fazer várias insinuações contra Luís Roberto Barroso, ministro do STF e presidente do TSE, e Alexandre de Moraes, ministro que incluiu Bolsonaro como investigado no inquérito das fake news. Também sobrou para Fux, que foi chamado de “desinformado” pelo presidente.
À tarde, Fux anunciou o cancelamento de reunião que aconteceria entre os chefes dos Três Poderes brasileiros (Executivo, Legislativo e Judiciário) em razão da postura de Bolsonaro. “Como presidente do STF, alertei o presidente da República em reunião realizada nesta Corte, durante as férias coletivas, sobre os limites do exercício do direito da liberdade de expressão, bem como ser necessário e inegociável o respeito entre poderes para harmonia do pais”, afirmou o magistrado.
“Contudo, como tem noticiado a imprensa, nos últimos dias o presidente da República tem reiterado ofensas, ataques e inverdades contra integrantes desta Corte”, prosseguiu. “O pressuposto do dialogo entre os Poderes é o respeito mútuo entre instituições e seus integrantes. Diálogo eficiente pressupõe compromisso permanente com as próprias palavras, o que infelizmente não temos visto no cenário atual”, finalizou.