O Fantástico, da TV Globo, exibiu neste domingo (4) mensagens obtidas através do celular do empresário e policial militar Luiz Paulo Dominguetti Pereira. O PM, que seria representante da estadunidense Davati Medical Supply, prestou depoimento à CPI do Genocídio na quinta-feira após denunciar à Folha de S. Paulo a suposta existência de um esquema de corrupção envolvendo o Ministério da Saúde com a previsão de 1 dólar de propina por dose de vacina.
"As mensagens no celular de Dominguetti revelam a teia de relacionamentos do policial militar no comércio paralelo de vacinas", disse o repórter Murilo Salviano, que conduziu a reportagem. O PM foi classificado como um "suposto desconhecido" do Ministério da Saúde que tentou vender vacinas como intermediário de uma empresa que o governo já havia comprado anteriormente, a AstraZeneca.
CPI
"A nossa suspeita é que existia uma busca pela corrupção", disse Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, ao Fantástico. Renan Calheiros (MDB-AL), relator da comissão, classificou a situação como incompetência e criticou a qualidade das negociações, "com atravessadores e pedidos de propina".
"Enquanto os brasileiros morriam pela falta de vacina, o governo propositadamente atrasava as vacinas que eram viáveis para fazer negócios com intermediário", completou Randolfe.
Propina
Dominguetti ganhou as manchetes após denunciar que o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, teria negociado propina de um dólar por dose vacina com a Davati em uma negócio de 400 milhões de unidades do imunizante Chadox, desenvolvido pela Universidade de Oxford com a AstraZeneca. A farmacêutica nega que a Davati seja uma representante autorizada. Seu depoimento à CPI deixou senadores sob alerta após ele divulgar vídeo com o objetivo de deslegitimar depoimento dos Irmãos Miranda.
Rede
A revista eletrônica apontou que o PM teve contato também com o diretor de Imunização do Ministério da Saúde, o veterinário Lauricio Monteiro Cruz nomeado por Eduardo Pazuello, com o secretário-executivo da pasta, Élcio Franco, e com o grupo evangélico Senah, comandado pelo reverendo Amilton Gomes. Reportagem do Jornal Nacional exibida no sábado (3) mostrou que o valor negociado com o Ministério da Saúde seria superior ao que foi denunciado por Dominguetti.
O celular
Ao acessar a perícia do aparelho celular de Dominguetti, o Fantástico revelou que ele negociava uma comissão de 25 centavos de dólar por dose, superior ao que foi informado na comissão. Nos diálogos aparecem nomes de "Guilherme Odilon" e "Haroldo", "Coronel Guerra" e "Serafim" como partícipes das negociações suspeitas. Eles ainda não foram identificados.
Uma das mensagens do tal coronel Guerra diz o seguinte: "Deixa eu sair do DOD. Não dá para usar telefone aqui". DOD seria uma sigla para Departamento de Defesa.
Guerra manteria contato direto com Herman Cardenas, dono da Davati. Em um dos chats, ele ainda dá a entender que Cardenas tinha reuniões diretas com a AstraZeneca, que nega envolvimento com a empresa dos EUA.