Linha auxiliar da Lava Jato no processo que buscou destruir a reputação e tirar o ex-presidente Lula do jogo político, os três principais jornais do país divulgaram editoriais sinalizando que ressuscitarão antigas táticas contra o petista, que com a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (8), passa a ter condições reais de disputar as eleições presidenciais em 2022.
Coube ao Estadão - "uma escolha muito difícil" - o mais duro ataque a Lula, a quem classificou como "monstrengo", dizendo que foi Jair Bolsonaro o responsável pela volta do petista ao cenário eleitoral.
"Bolsonaro, por palavras e omissões, ajudou a recriar o monstrengo que já atormentou em demasia este país", afirma o jornal da família Mesquita, que representa os interesses do empresariado, de ruralistas e do sistema financeiro paulista.
Para o Estadão, "o assunto é da maior gravidade, pois traz de volta ao cenário político um grande perigo para o País" ao confessar que ajudou a eleger Bolsonaro por ser "o mais antipetista dos candidatos", que agora "não apenas descumpre suas promessas de campanha, como está produzindo a perfeita antítese das expectativas do seu eleitorado: o ressurgimento do fantasma do lulopetismo".
Citando pesquisa recente do Ipec (ex-Ibope), que projeta em até 50% do eleitorado as intenções de voto em Lula, o jornal diz que "é desolador constatar que o mais famoso ficha-suja do País, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, voltou a ser, para metade do eleitorado, uma opção possível de voto".
"A situação esdrúxula expõe um novo engano. Quem continua apoiando Jair Bolsonaro achando que, assim, ao menos impede um mal maior – a volta do PT ao poder – pode, na verdade, estar contribuindo exatamente para aquilo que tanto rejeita", diz o Estadão, sinalizando que fará do governador paulista, João Doria (PSDB), ou qualquer opção de "centro" sua escolha para 2022.
O Globo
Em seu editorial, O Globo, da Família Marinho, diz que "Fachin devolve Lula ao jogo eleitoral" e já sinaliza de que lado joga ao dizer que "a principal consequência dela [decisão do ministro do STF], porém, já está na mesa".
"A mera possibilidade de Lula se candidatar em 2022 fez derreter os mercados. Isso porque permitiria, em tese, que Jair Bolsonaro repetisse a polarização ideológica que o levou à vitória em 2018, contra o petista Fernando Haddad", diz o jornal, ressaltando que o retorno de Lula "aumenta bastante o desafio para a oposição de centro".
"É cedo para especular sobre o destino das candidaturas, mas é inegável que Lula é o rival dos sonhos de Bolsonaro — e vice-versa", diz o texto.
O Globo, no entanto, se ocupa no primeiro momento em defender Sergio Moro que, com a decisão, estaria sendo poupado "de dores de cabeça futuras, com a repercussão de uma decisão desfavorável da Segunda Turma noutros processo", falando principalmente do julgamento do pedido de suspeição do ex-juiz - e ex-ministro de Jair Bolsonaro - feito pela defesa de Lula, que está previsto na pauta da 2ª Turma do STF para esta terça-feira (9).
"A derrota prevista para o julgamento de Moro na Segunda Turma poderia ter consequências ainda mais nefastas. Primeiro, o processo inteiro contra Lula seria anulado (na decisão, Fachin não anulou as provas colhidas na fase de instrução). Segundo, uma decisão que referendasse promiscuidade entre Moro e os procuradores da Lava-Jato com base na troca de mensagens vazadas ilegalmente poderia ter repercussão em dezenas de outros processos e pôr a perder todo o trabalho da operação", diz O Globo.
Folha
Mais amena, a Folha de S.Paulo diz que a decisão de Fachin tem um "enorme impacto" e cobra do próprio STF uma "resposta" às "incertezas" criadas com a decisão de Fachin.
"Caberá ao colegiado encontrar rapidamente o equilíbrio necessário para a preservação da ordem jurídica e da credibilidade do tribunal", diz o jornal da família Frias.
A Folha afirma ainda que a decisão de Fachin teria impedido "o efeito cascata que uma reprovação [no julgamento sobre a suspeição] a Moro poderia gerar".
"Mas é possível que os advogados do ex-presidente insistam para que a corte examine os métodos heterodoxos do ex-juiz, com o objetivo de anular também as investigações que, sob sua supervisão, reuniram as provas anexadas às denúncias do Ministério Público, o que criaria tumulto em toda parte", diz o jornal.