Ombudsman da Folha critica texto sobre Marília Mendonça: "Machismo, feminismo, autoestima, gordofobia, estava tudo lá"

O ombudsman destaca que "a Folha desta vez sabia o tamanho da notícia, mas ainda está longe do Brasil que vê as rainhas, não só as gordinhas".

Marília Mendonça (Reprodução/Facebook)Créditos: Redes sociais
Escrito en MÍDIA el

O repúdio nas redes sociais ao texto machista e gordofóbico de Gustavo Alonso na Folha de S.Paulo sobre Marília Mendonça, que morreu em um acidente aéreo no último dia 5, ganhou reflexo na análise do ombudsmas do jornal, José Henrique Mariante, neste domingo (14).

"Várias vozes do próprio jornal se levantaram contra o artigo. Machismo, feminismo, autoestima, gordofobia, estava tudo lá. Hábito mantido, a Folha critica a Folha", diz em seu texto.

Mariante, no entanto, afirmou que os trechos do texto que dizem que Marília Mendonça "nunca foi uma excelente cantora" e que "era gordinha e brigava com a balança" promoveram um "estrago", mas que "os outros 18 parágrafos do artigo de Alonso são interessantes".

"A Ilustrada alega que não poderia censurar um texto de opinião, que não é possível confundir obituário com hagiografia. Concordo, mas me pergunto se quem leu o artigo antes de sua publicação não percebeu o potencial de dano daqueles dois parágrafos. A questão da balança permeia toda a análise, mas apenas o trecho destacado nas redes dá margem para execração. Ou quem leu não viu problema?", escreve o jornalista.

O ombudsman destaca que "a Folha desta vez sabia o tamanho da notícia, mas ainda está longe do Brasil que vê as rainhas, não só as gordinhas".

"Brasil que não existia em seus cadernos de cultura"

Segundo Mariante, a morte do cantor sertanejo Cristiano Araújo junto com a namorada, em um acidente de carro em Goiás em 2015, fez com que "a Folha e boa parte da chamada grande imprensa" acordassem "para um Brasil que não existia em seus cadernos de cultura".

"A cobertura pífia dos jornais contrastava com o sensacionalismo das TVs, enquanto o país real aflorava pela internet. O choque foi grande, e a Folha, como de hábito, discutiu a própria ignorância. O jornalista Fabio Victor, então editor-adjunto da Ilustrada, descreveu o tombo em artigo. 'Ontem muitos descobrimos que nossos gostos se limitam aos daqueles com quem convivemos'", escreve o ombudsman no início do texto.

Segundo ele, seis anos depois, com a morte de Marília Mendonça, a "Folha sabia o tamanho da notícia e, mesmo assim, se atrapalhou".

"A discussão poderia ser sobre as imagens cruas do acidente e do corpo morto ao vivo na TV; ou a decisão acertada, por tudo que já foi escrito aqui, de noticiar a sua morte na manchete do impresso, a despeito da decisão de Rosa Weber sobre as emendas de relator; ou a opção, mais apelativa, de dar a foto maior para o avião na cachoeira, receita idêntica à usada com Ayrton Senna, em 1994. A discussão, porém, girou sobre dois parágrafos de uma análise assinada por Gustavo Alonso, colunista da Folha, doutor em história e especialista em sertanejo, aquisição recente do jornal para ocupar a lacuna descoberta em 2015".

Leia a crítica do ombudsman na Folha