Mídia internacional destaca "ira" de bolsonaristas contra vagina gigante em PE: "Clima cada vez mais intolerante"

Veículos como Reuters e The Guardian fazem relação direta entre as críticas à obra de Juliana Notari e a perseguição que o governo Bolsonaro encampa contra a arte, a cultura, a esquerda e o feminismo

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A obra de uma artista plástica que retrata uma vagina gigante em Pernambuco segue gerando a ira de bolsonaristas.

A grita contra "Diva", produção de 33 de metros de altura, 16 de largura e 6 metros de profundidade da artista pernambucana Juliana Notari e que foi inaugurada recentemente na Usina Santa Terezinha, cidade de Água Preta, é tão grande que vem repercutindo na mídia internacional.

Em matérias sobre o assunto, veículos como a agência de notícias Reuters e o jornal britânico The Guardian destacam que as críticas partem, principalmente, de bolsonaristas, e fazem uma relação direta entre a desaprovação à obra e a perseguição que o governo de Jair Bolsonaro encampa contra a arte, a cultura, a esquerda e o feminismo.

"Clima cada vez mais intolerante no Brasil de Jair Bolsonaro", destacou o Guardian.

"Desde que assumiu o cargo em 2019, Bolsonaro tem difamado repetidamente a cultura, pintando artistas - muitos dos quais se opõem ao seu governo - como decadentes que extraem fundos públicos para vender lixo comunista. Uma sucessão de artistas renomados morreu no ano passado, muitos de Covid-19, e Bolsonaro respondeu com silêncio", disparou o jornal.

Já a Reuters chamou a atenção para o fato de que as críticas à vagina gigante são feitas por apoiadores do "presidente de extrema-direita" e chamou a discussão de "guerra cultural".

A agência lembra ainda que, em 2019, Bolsonaro tentou congelar o financiamento de filmes com temáticas LGBT e que, naquele mesmo ano, seu então secretário de Cultura, Roberto Alvim, fez um pronunciamento com tom nazista em que copiou falas do chefe da propaganda de Adolf Hitler, Joseph Goebbels.

O caso também virou notícia na revista alemã Deutschlandfunk Nova. "A obra de arte também é entendida como uma crítica ao presidente Jair Bolsonaro, de extrema direita, que não acredita na arte nem nos direitos das mulheres. A artista agora está sendo ofendida verbalmente por muitos de seus seguidores", escreveu a publicação.

"Diva"

Ao descrever a obra, a artista plástica Juliana Notari apontou, justamente, que a motivação para produzi-la vem de uma tentativa de fazer um contraponto ao machismo e ao falocentrismo – os mesmos que foram expressados nos comentários ofensivos de sua postagem.

“Em ‘Diva’, utilizo a arte para dialogar com questões que remetem a problematização de gênero a partir de uma perspectiva feminina aliada a uma cosmovisão que questiona a relação entre natureza e cultura na nossa sociedade ocidental falocêntrica e antropocêntrica. Atualmente essas questões têm se tornado cada vez mais urgentes”, explicou Juliana.

“Piranha!”, escreveu um usuário do Facebook na publicação de Juliana, em meio a inúmeros outros comentários depreciativos. “Agora Pernambuco é cenário de filme pornô?”, postou uma mulher.