Em entrevista ao jornalista Pedro Bial, transmitida pela Globo na noite desta terça-feira (1), a apresentadora Monica Iozzi fez um desabafo e uma autocrítica com relação ao período em que compunha a bancada do CQC, programa que foi ao ar pela Bandeirantes entre 2008 e 2015.
O programa, ao lado do Super Pop (RedeTV), de Luciana Gimenez, é apontado como um dos que mais deu visibilidade para o então deputado federal Jari Bolsonaro.
A Bial, Monica Iozzi se disse arrependida de ter dado "palanque" para o atual presidente. A fala se deu logo após o jornalista exibir um trecho do CQC em que Bolsonaro se colocava contra o o financiamento pelo SUS do tratamento de pessoas com HIV.
"Ele adorava dar entrevistas porque ele foi muito mais inteligente do que nós, do CQC. Posso falar só por mim, né? Vou falar só por mim. Ele foi muito mais inteligente do que eu. Ele sabia que podia se utilizar daquela visibilidade que o programa proporcionava para espalhar o seu discurso. E ele ainda não era um cara muito conhecido. Então, para ele, era bom: vou aqui divulgar as minhas ideias, a minha plataforma", disse a apresentadora.
"Quem mais deu voz ao Jair Bolsonaro, que fez com que ele depois fosse convidado para outros programas, foi o CQC. A gente não pode se eximir dessa culpa e, sim, eu me arrependo muito de ter falado com ele tantas vezes. Acho que ingenuidade soa estranho, né? Eu já era ali uma mulher de 28 anos, eu sabia o que estava fazendo, apesar de não ter uma formação jornalística. Mas eu nunca consegui ter essa visão mais ampla, essa visão pensando a médio e a longo prazo, de que, ao invés de estar fazendo uma denúncia, eu poderia estar dando palanque, eu poderia estar aumentando o alcance daquele discurso", completou Monica.
De acordo com a apresentadora, o intuito, ao dar voz a Bolsonaro, era denunciar seu discurso e a "falta de intelecto" dele para exercer um cargo de deputado. Ela reconheceu, contudo, que a estratégia não foi a mais acertada, e que hoje defende um certo tipo de regulação para discursos de ódio na mídia.
"Pensando a respeito, depois de todo esse tempo, me ocorreu uma coisa. Se você for na Alemanha, você não vai ter espaço na TV para pessoas que relativizam o Holocausto. Eu acho que a gente precisa começar a ter, em relação ao discurso de ódio, esse tipo de intolerância. Às vezes têm coisas que não podem ser toleradas. Então, ao invés de a gente propagar pessoas que têm discurso racista, homofóbico... É que Bolsonaro juntava todos, né?", pontuou.