Reportagem exibida pelo telejornal RJ2, da TV Globo, nesta quinta-feira (26) recebeu duras críticas nas redes sociais por homogenizar o gigantesco Complexo da Maré, que possui 140 mil moradores espalhados em 17 favelas, em apenas um "bunker" de criminosos.
A matéria produzida por Erick Rianelli, Felipe Freire, Guilherme Santos e Leslie Leitão para o telejornal afirma que "quadrilhas especializada em diversos crimes, espalhando terror no Rio, em cidades da Região Metropolitanas e fora do estado, tem uma coisa em comum: elas tem a mesma base, a Maré". Segundo a reportagem são 244 foragidos vivendo na região.
Para piorar as coisas, o portal G1 utilizou o termo "bunker de criminosos". "'Bunker' de bandidos, Complexo da Maré concentra mais de 240 foragidos da Justiça", dizia a chamada da reportagem feita pelo site.
Marcelo D. Macedo, colunista do Voz das Comunidades, foi um dos que criticou a abordagem do telejornal. "Segundo o Censo Maré, concebido por moradores da favela (tem ciência na favela), são 140 mil habitantes. Aí quatro jornalistas produzem um material que criminaliza as dezessete favelas do complexo. Ou Leblon e Barra não têm mais foragidos por habitante que qualquer favela do Rio?", tuitou.
"Uma matéria racista dessas seria evitada caso, sei lá, veículos de mídia tradicional pusessem jornalistas pretos e/ou favelados (não, não é mesma coisa) em suas redações. Mas a cidade só vê a favela se for com um olhar lucianohuck, cheio de pena e oportunismo. Bandidos são vocês", completou.
O fundador do Vozes da Comunidade, Renê Silva, relacionou a abordagem com a própria formação do jornal comunitário. "O Voz da Comunidades surge em 2005 porque eu sempre via a grande mídia reproduzindo a favela desta maneira. Nos anos 90, uma capa do jornal O Globo, por exemplo, chamava o Complexo do Alemão de quartel general tráfico e inferno. Décadas se passaram e continuam reproduzindo isto", afirmou no Twitter.
A cientista social Juliana Pinho, integrante da Frente Maré, classificou como "irresponsável". "O Complexo da Maré concentra mais de 140 mil moradores que têm seus direitos básicos violados todos os dias pelo Estado. Mas é muito mais simples reduzir a favela assim, né?!", escreveu.
O comunicador Leonardo Azevedo também ressaltou que a Maré tem uma população maior que do que a grande maioria das cidades brasileiras e que 244 seria algo próximo de 0,2% dos moradores. "Se fosse uma cidade, a Maré seria maior que 96% dos municípios brasileiros — e isso está escrito na reportagem abaixo. Apesar disso, nada impediu que essa chamada criminosa viesse a público. É de foder", tuitou.
Confira a repercussão nas redes: