A foto é comovente. Neilton Mattos chora debruçado sobre o caixão do seu filho, o menino João Pedro, de 14 anos, assassinado pela polícia com um tiro de fuzil em casa, nesta segunda-feira (18), no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. Na manchete, o jornal Extra, do Rio de Janeiro, chama o caso de “A nova vítima de nossa doença crônica”.
A comparação com a pandemia do coronavírus traz um veredito fulminante. Mais cedo ou mais tarde, a Covid-19 será vencida, seja por uma vacina, remédio ou o próprio isolamento social. A morte de outros meninos e jovens negros das periferias do Rio de Janeiro e do Brasil, no entanto, é uma doença crônica que, ao que tudo indica, tão cedo não terá cura.
O caso de João Pedro engrossa a macabra estatística. O Brasil teve ao menos 5.804 pessoas mortas por policiais em 2019 – um dado maior que em 2018. No mesmo período, 159 policiais foram assassinados – número bem menor que o do ano anterior. O levantamento foi feito pelo G1 com base nos dados oficiais de 25 estados e do Distrito Federal. Apenas Goiás se recusa a passar os dados.
João Pedro foi assassinado por um tiro na barriga enquanto cumpria o isolamento social em casa, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Disparo veio de policiais durante uma operação na Praia da Luz, por volta das 16h. O jovem foi levado pelos agentes em um helicóptero e está desaparecido.
De acordo com o primo do jovem, Daniel Blaz, que iniciou uma campanha no Twitter para pressionar as autoridades em busca de João Pedro, o disparo ocorreu quando traficantes entraram na casa do garoto para fugir dos policiais.
João Pedro ficou mais de 12 horas desaparecido depois que a polícia o levou em um helicóptero, após a operação. Familiares encontraram o corpo do adolescente apenas na manhã desta terça-feira (19), no Instituto Médico Legal (IML) de São Gonçalo.
Durante todo o processo de busca, familiares contam que não foi encontrado registro da entrada do adolescente em nenhum hospital. A polícia, portanto, não teria prestado socorro ao garoto.