Em editorial, O Estado de S. Paulo diz que ataque de Bolsonaro a jornalistas “enxovalha o País”

“O que se testemunhou ontem à saída do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, foi muito além do tolerável até para o grosseiro padrão do bolsonarismo", diz o texto

Jair Bolsonaro - Foto: Reprodução/Youtube
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Até mesmo a chamada imprensa tradicional começa a dar claros sinais de desgaste em sua relação com o governo. O jornal O Estado de S. Paulo, um dos principais porta-vozes da elite empresarial brasileira, divulgou editorial, neste sábado (21), no qual avalia que Jair Bolsonaro quebrou o decoro ao atacar jornalistas na saída do Palácio da Alvorada, na sexta (20). Com isso, ele já pode sofrer um processo de impeachment. Um dos trechos do texto, intitulado “Quebra de decoro”, destaca que o presidente faltou com o decoro necessário para o exercício do cargo ao reagir “raivosamente” ao noticiário sobre as suspeitas envolvendo seu filho Flávio Bolsonaro. Não é sócio Fórum? Quer ganhar 3 livros? Então clica aqui. “Na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro, sob aplausos dos simpatizantes que ali estavam, ofendeu jornalistas que o questionaram, acusou sem provas o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, de manipular o caso para prejudicá-lo e insinuou que o juiz do processo tem interesse em fazer as vontades do governador, já que uma filha do magistrado é funcionária do estado”, diz. Em outro trecho, o editorial ressalta a reação truculenta do presidente, o que “surpreendeu mesmo aqueles que acompanharam sua trajetória política até aqui e testemunharam seu destempero em diversas ocasiões”. “É fato que Bolsonaro, desde que assumiu a Presidência, costuma recorrer à agressividade sempre que precisa mobilizar a militância bolsonarista para intimidar adversários políticos. A esta altura está claro que Bolsonaro não conhece outras formas de fazer política”, acrescenta. O texto vai mais além. “O que se testemunhou ontem à saída do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, foi muito além do tolerável até para o grosseiro padrão do bolsonarismo. Já seria indecoroso mesmo se Bolsonaro fosse apenas um deputado federal do baixo clero; como presidente da República, tal comportamento envergonha os cidadãos e enxovalha o País”. Acuado O editorial ressalta, ainda, que Bolsonaro, ao agir dessa maneira, não apenas se apequena como presidente, como dá a entender que está acuado diante das suspeitas que recaem sobre seu filho Flávio. “O decoro no exercício da Presidência não é um capricho; é, antes, a consciência da responsabilidade – e dos limites – de quem conduz os rumos da nação, como chefe de Estado e de governo. Não é qualquer um que pode ocupar a cadeira presidencial, por mais que o atual presidente queira apresentar-se como um homem comum. A deferência ao cargo de presidente da República é, antes de mais nada, deferência à própria noção de República, em que todos devem se submeter à lei – e mesmo a mais alta autoridade do País não pode fazer ou dizer o que lhe dá na cabeça. Honestidade e compostura devem emanar da cadeira presidencial”, finaliza.