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Por Luis Nassif, no Jornal GGN
O mercado da opinião pública é uma realidade complexa, com vários públicos, cada qual envolvendo nuances e desdobramentos variados.
No campo jurídico – e no mercado de opinião mainstream – há uma divisão clara entre personagens vulneráveis e blindados, e entre notícias que contam e as que não contam.
Não é por outro motivo que, há muitos anos, desenvolveu-se o método do assassinato de reputações nas guerras corporativas, utilizados com maestria por personagens como Daniel Dantas. Ou desqualificações de informações sob a acusação genérica de teoria conspiratória ou – no padrão atual – de serem fake news.
A parceria velha mídia-Lava Jato valeu-se dessas características do mercado de opinião: só vale denúncia veiculada pela velha mídia, independentemente da sua fundamentação ou da fundamentação das notícias da nova mídia. Qualquer denúncia de outro veículo é jogada na vala comum da militância política, uma posição extremamente cômoda para manter alvos e blindados sob controle.
Esse mesmo jogo ocorre internacionalmente com os tribunais internacionais de direitos humanos, de meio ambiente, com os tratados internacionais, com os grandes veículos de mídia, com o mundo jurídico, qualificando as fontes de informação.
Até alguns anos atrás, a única fonte de informação sobre o Brasil eram os veículos da velha mídia brasileira e alguns organismos de direitos humanos. Após o impeachment, houve várias autocríticas de grandes jornais europeus lamentando o fato de terem se baseado apenas nos relatos dos jornais brasileiros, contaminados pelo pacto de 2005, conduzido por Roberto Civita, da Abril, que jogou a imprensa brasileira no nível mais baixo da história.
O aparecimento dos blogs e das redes sociais tirou da velha mídia o protagonismo único na difusão e interpretação dos fatos. Especialmente em países em desenvolvimento, a opinião pública internacional passou a prestar atenção cada vez maior no discurso contra hegemônico dos novos atores. Em vários países, da África ao Brasil, ganharam relevância blogs independentes que passaram a denunciar as mazelas sociais e os escândalos internos.
A desmoralização da velha mídia – não apenas por aqui, mas em países emergentes em geral - abriu espaço para dois novos personagens.
O primeiro, o blogueiro independente, o jornalista que decidiu denunciar as mazelas nacionais, correndo risco pessoal. O segundo, bilionários da nova economia, ou do mercado financeiro, financiando experiências na novíssima mídia, sites que abrigam bons repórteres investigativos. É o caso da BuzzFeed, Intercept e outros.
Por trás do apoio, há, de um lado, a vontade de legitimação da nova ordem global. Aliás, na história, muitos bilionários, em determinado momento, se sentiram condutores do processo civilizatório, como a segunda geração dos Rockefellers, dos Vanderbilts, do J.P.Morgan, dos Rothschild, entre outros.
Nesse movimento, há a estratégia de legitimação de sua atividade e do combate ao poder remanescente da velha economia e das velhas relações de poder.
A ordem da nova economia funda-se em algumas teses bastante legitimadoras:
- Defesa dos direitos sociais nas nações menos desenvolvidas.
- Defesa do meio ambiente.
- Luta contra a corrupção.
- Ortellado dividiu o mercado de opinião arbitrariamente em três grupos: blogs de direita, blogs de esquerda, e a velha mídia.
- Pela direita, entram Jornalivre, Papo TV, Folha Política, Partido Anti-PT e Anti-PT, claramente produtores de notícias fake.
- Fosse metodologicamente preciso, o trabalho trataria de comparar com blogs fakes de esquerda. No entanto, optou por igualar pela esquerda, Jornal GGN, Diário do Centro do Mundo, Revista Fórum, Falando Verdades, O Cafezinho, Brasil 247, Mídia Ninja.
- No centro, entraram Veja, Folha de S.Paulo, G1, UOL Notícias, O Globo, Estadão, revista IstoÉ, Exame, Época, e Carta Capital na divisa.
- O abandono claro e inequívoco do termo “fake news” que a Comissão Europeia estava usando inicialmente. É um termo inadequado que não explica a complexidade da situação e gera confusão na mídia e debates políticos, bem como no tratamento do tema pelos pesquisadores.
- Um apelo claro para apoio financeiro para meios de comunicação independentes, verificação de dados e fontes, e alfabetização de mídia e informação. O relatório aponta especificamente a necessidade de financiar iniciativas independentes, livres da interferência de autoridades públicas ou empresas de tecnologia que possam ser tentadas a usar esses projetos como uma vitrine em suas relações públicas.
- Um apelo às plataformas para que compartilhem os dados. A comunidade de verificadores e “fact-checkers” pedem às plataformas mais acesso aos dados há anos, é especialmente importante que o Google, o Facebook e o Twitter se comprometam com isso. (...)
- Um pedido para que instituições públicas em todos os níveis da União Europeia compartilhem os dados de forma rápida e eficiente quando solicitado por organizações de verificação de dados, corrigindo-os quando apropriado. Isso significa reconhecer que os atores políticos e as instituições desempenham um papel crucial na melhoria do nosso ecossistema de informação.
- A criação de uma rede de centros de pesquisa sobre desinformação na União Europeia. Nosso conhecimento atual se concentra quase que exclusivamente em dados dos EUA e é vital que a União Europeia colete dados de estudos transfronteiriços para compreender as diferenças e nuances no escopo, escala e impacto da desinformação nos 28 estados membros.
- A insistência em uma abordagem colaborativa que envolve todos os atores relevantes, com um processo previamente estruturado que documentará os progressos realizados e irá apontar os atores que não tomam suas responsabilidades a sério.