Renata Mielli: “Debate sobre fake news privilegia poder econômico na mídia”

Jornalista é coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e afirma que a criação de grupos por parte da PF para discutir meios de coibir notícias falsas é mais uma parte do golpe: a ideia é restringir a liberdade de expressão de veículos alternativos de mídia, no ano eleitoral.

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Jornalista é coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e afirma que a criação de grupos por parte da PF para discutir meios de coibir notícias falsas é mais uma parte do golpe: a ideia é restringir a liberdade de expressão de veículos alternativos de mídia, no ano eleitoral. Da Rede Brasil Atual Na terceira entrevista da série Fake News, da TVT, a jornalista Renata Mielli – coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e Secretária-Geral do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé – afirma que a criação de grupos por parte da Polícia Federal para discutir meios de coibir as chamadas notícias falsas é mais uma parte do golpe, articulado pelo governo Temer. Segundo a especialista, a ideia é restringir a liberdade de expressão de veículos alternativos de mídia, no ano eleitoral. Ajude a Fórum a fazer a cobertura do julgamento do Lula. Clique aqui e saiba mais. “Se você olha o que esse grupo de trabalho está dizendo é isso: é [combater] notícias que ataquem os candidatos, que ‘promovam boatos’. Mas isso em eleição sempre aconteceu”, diz Renata. “É preciso ter uma força de segurança nacional, uma Polícia Federal monitorando o que está sendo dito e cerceando a liberdade de expressão, de se fazer uma crítica um candidato?”. Ela afirma que o projeto exclui os meios de comunicação da mídia tradicional do monitoramento sobre seus conteúdos. “Pra mim, o objetivo central disso é dizer: como houve essa comoção internacional, de que a Rússia teria em interferido no resultado das eleições dos Estados Unidos através da disseminação de notícias falsas e boatos, eles estão querendo fazer isso para dizer ‘olha, aqui no Brasil não houve interferência, o resultado da eleição é reflexo da vontade popular, porque não houve interferência de notícias falsas’. Mais uma fake news produzida pelo TSE, porque sempre no Brasil os resultados eleitorais, via de regra, sofrem alguma interferência de grandes meios de informação que produzem algum boato. A edição de um debate [como feito e já admitido pela Globo nas eleições presidenciais de 1989, entre Fernando Collor e Lula] não é uma manipulação da informação? A ficha falsa da Dilma 'terrorista' na Folha de S.Paulo [em 2009, para influenciar nas eleições de 2010] é fake news? Esse tipo de informação vai estar sobre o escrutínio dessa comissão constituída pelo TSE? Para a ativista, está claro que o projeto que alega combater a difusão de notícias falsas visa privilegiar a chamada grande mídia e interromper o crescimento dos portais e blogues independentes e o enfrentamento que fazem ao monopólio da informação. “O objetivo é cercear, perseguir e impedir a livre circulação de informação, não é combater fake News. Discutir fake news hoje é uma maneira de se restabelecer o valor econômico da informação, é restabelecer o poder dos grandes veículos de comunicação, de serem eles os detentores do ‘jornalismo de qualidade’, da ‘informação de qualidade’ e de você colocar em questionamento a informação que circula pela internet”. A conclusão, para a jornalista, é que é preciso barrar a pretensão dos que defendem a formação do grupo de trabalho que pretende monitorar a circulação de informações relacionadas às eleições deste ano. “Quem se prejudica com isso é a sociedade em primeiro lugar, porque vai perder o pouco da pluralidade que a internet conseguiu conferir ao espaço de circulação de informação e são exatamente as vozes historicamente silenciadas – a classe trabalhadora em geral, os pobres, negros, mulheres, população LGBT etc. – que conseguiram ter alguma brecha nessa guerra midiática, de colocar sua informação, de fazer o contraponto”. Foto: YouTube