Gabriel Priolli: O Globo cria apocalipse fake usando Stephen Hawking

Escrito en MÍDIA el
Jornal da família Marinho usa análises corretas do físico britânico para fazer manchetes em tom apocalíptico. Será que a editoria de Ciência de O Globo não entende bem o material estrangeiro que reproduz?   Por Gabriel Priolli   Quem produz mesmo a pós-verdade? As redes sociais espalham, com certeza, mas são apenas elas que a criam? Circula por aqui em Zuckerland a matéria abaixo do venerando O Globo, trazendo apreciações do não menos venerando professor Stephen Hawking. O físico inglês faz observações corretas sobre a gravíssima situação ambiental do planeta e conclui pela sua insustentabilidade, considerando que o futuro possível da espécie humana é migrar para outros mundos, a começar da Lua e de Marte. Hawking entende que a migração pode ter início em 30 anos, o que não é nenhuma impossibilidade técnica ou mesmo uma novidade, visto que há projetos espaciais públicos e privados nessa direção. Não só dos EUA, mas também da Rússia e da China. Eis então que O Globo, alarmado pelo tom apocalíptico da previsão de Hawking, sentencia em manchete que a humanidade PODERÁ SER EXTINTA em 30 anos. Leia aqui Não é isso que Hawking diz e a razão é óbvia. Por mais grave que seja a situação terrestre, três décadas é um tempo ridiculamente curto para um colapso civilizatório total, capaz de extinguir a espécie. Salvo se um asteroide de matar dinossauros desabar sobre nós. Mas não há nenhum corpo desse tipo vindo em nossa direção. Nada foi monitorado até o momento e há milhares de telescópios apontados para o céu, exatamente para isso. Na mesma matéria, O Globo oferece link para outro texto dele mesmo, publicado no início de maio. Nessa outra matéria, também com o físico americano e sobre o mesmo assunto, a manchete é menos urgente: "'Vamos precisar deixar a Terra em 100 anos', diz Stephen Hawking". Leia aqui Conclusões inescapáveis: 1) a editoria de Ciência de O Globo não entende bem o material estrangeiro que reproduz; 2) os coleguinhas não lembram do próprio material que editam, para compará-lo com as notícias que chegam; 3) o grande público, que já lê apenas as manchetes das matérias nas redes sociais, é desinformado por um dos jornais de circulação nacional. Se a ideia é entreter a patuléia com catastrofismo, em vez de informá-la com a boa ciência, sugiro trocar o jornal pela série The Expanse, no Netflix, que diverte sem angústia. Passa no Século XXIII, a Lua, Marte e o cinturão de asteroides estão ocupados pelos humanos, mas a Terra - para tranquilidade geral dos contemporâneos deste XXI aterrorizante - é o paraíso ambiental da galáxia...