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A matéria intitulada "Mulheres são vistas como propriedades dos homens no Líbano" também foi repudiada pelo Consulado Geral do Líbano em São Paulo
Por Redação
Uma reportagem exibida no Fantástico, da rede Globo, neste domingo (29) está gerando comoção de entidades árabes. A matéria intitulada "Mulheres são vistas como propriedades dos homens no Líbano" é acusada de mostrar uma versão preconceituosa e estereotipada da mulher libanesa. Segundo a Federação das Entidades Americano-Árabes (Fearab América) e o Consulado Geral do Líbano em São Paulo, essa visão não condiz com a realidade da mulher no país.
As duas instituições divulgaram cartas de repúdio à matéria da emissora, ressaltando que a violência contra mulher não é uma exclusividade do país.
Confira a nota da Fearab América na íntegra:
"A Fearab América deseja manifestar seu repúdio em relação à matéria sensacionalista exibida pelo programa Fantástico, no dia 29 de junho de 2014, intitulada "Mulheres são vistas como propriedades dos homens no Líbano". A Rede Globo não ofereceu ao espectador um panorama real sobre uma questão que merece ser tratada de forma séria e responsável, pois do contrário, jamais será combatida em sua origem.
A emissora pareceu optar pela via da informação fora de contexto ou da desinformação para falar sobre um assunto grave e que merece atenção em todos os países do mundo.
A violência contra a mulher não deve ser associada a um país, tampouco a uma religião. Relatórios da ONU mostram que 35% das mulheres do mundo todo sofreram algum tipo de violência física e/ou sexual provocada por seus parceiros ou não-parceiros. Ademais, na Austrália, Canadá, Israel, África do Sul e Estados Unidos, a violência provocada por parceiros íntimos é a causa da morte de 40 a 70% das mulheres vítimas de assassinato.
É imperativo enfrentar este problema, que adquire contornos dramáticos em todo o mundo. Mas é nosso dever alertar para o fato de que, dependendo de como a informação é veiculada, ela distorce completamente os fatos, e contribui sobremaneira para criar preconceito, estereótipos e representações sociais negativas de um país inteiro, por exemplo.
Solicitamos que a emissora repense o teor sensacionalista adotado em suas matérias e sugerimos que, ao tratar de assuntos que possam aumentar ainda mais a construção de estereótipos, se empenhe em dar espaço para que os atores envolvidos no processo possam ser ouvidos de forma neutra e imparcial.
FEARAB América
01 de julho de 2014”.
Confira também a carta divulgada pelo Consulado Geral do Líbano em São Paulo:
"O Consulado Geral do Líbano em São Paulo repudia veemente a reportagem da Rede Globo apresentada neste domingo dia 29/06/2014 abordando a situação das mulheres no Oriente Médio, em específico no Líbano. A reportagem demonstra desconhecimento da situação da mulher na sociedade libanesa descrevendo-a como uma propriedade do homem sujeita à todo tipo de mau trato e abusos.
A reportagem, além de atribuir a responsabilidade da violência à Religião, coloca os homens libaneses num patamar de ignorância, de crueldade e de impunidade. Aquilo que é exceção e condenável em qualquer sociedade, transformou-se durante a apresentação da reportagem, numa verdade absoluta e generalizada.
Tanto os Sagrados Corão e Evangelho que norteiam a Sociedade Libanesa islâmica e cristã condenam veemente a violência contra a mulher e qualquer atitude de agressão sexual, estupro ou violência doméstica é condenado e punido pelo Código Civil do Líbano, que recebe todo aval das instâncias religiosas que zelam pela família e pelos direitos da mulher. Os casos de violência doméstica existem como em qualquer sociedade ocidental e são plenamente denunciados na mídia e sujeitos à condenação pela Justiça (igual à Lei Maria da Penha no Brasil).
Há séculos, as mulheres são alicerces das famílias libanesas, recebem os mesmos direitos de saúde, educação e direito ao trabalho. Participam das lutas sociais, dos fóruns de debates e compartilham com os homens a nobre responsabilidade da pedagogia.
Há anos, as mulheres libanesas atuam no jornalismo, no cinema, no teatro, na literatura, nos esportes, na diplomacia e nos círculos políticos, porém em momento algum a mulher tornou-se propriedade e objeto de trato do homem ou da sociedade.
Nos preocupa muito a divulgação de tal reportagem sob um formato apelativo, sensacionalista e distante dos preceitos do profissionalismo jornalístico. Lamentamos por fim, que essa reportagem seja uma equivocada análise de fatos e não uma ignorância da realidade da sociedade libanesa.
Kabalan Frangieh
Cônsul Geral do Líbano em São Paulo."
(Foto de capa: Reprodução/Filme "E agora, aonde vamos?")