Para Laurindo Leal, decisão do SBT sobre Sheherazade é “simplesmente corporativa”

Para especialistas, proibir comentários em telejornais da emissora não é uma medida que tem a ver com censura, tampouco com uma possível preocupação com a questão dos direitos humanos

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Para especialistas, proibir comentários em telejornais da emissora não é uma medida que tem a ver com censura, tampouco com uma possível preocupação com a questão dos direitos humanos Por Marcelo Hailer Nesta segunda-feira (14), o SBT (Sistema Brasileiro de Televisão) emitiu um comunicado oficial a respeito do futuro da jornalista Rachel Sheherazade que, após emitir comentário favorável a ação dos “justiceiros” do Rio de Janeiro, se tornou alvo de protestos no Brasil inteiro. Pela nota, a emissora afirma que a jornalista permanece no canal, mas não mais poderá emitir opinião editorial. “A jornalista Rachel Sheherazade volta a apresentar o telejornal SBT Brasil nesta segunda-feira (14), mas não vai mais poder dar sua opinião nos telejornais da emissora. A medida vale para todos os jornalistas da emissora”, diz o comunicado do SBT. A nota ainda diz que tem por objetivo “preservar” os apresentadores Rachel Sheherazade e Joseval Peixoto, que continuam no comando do SBT Brasil. A medida do SBT gerou (e está gerando) uma discussão na rede e fora dela: afinal, a jornalista foi censurada? Qual é o limite da liberdade de opinião jornalística com a questão dos Direitos Humanos? Quando a repórter disse aos telespectadores que, ia lançar uma campanha ("Está com pena? Adote um bandido"), incitou à violência? Perguntas não faltam pra este fato, que mobilizou parlamentares a entrarem com pedido para que as verbas publicitárias do governo federal fossem cassadas e a concessão da emissora questionada. Para o professor de Jornalismo da ECA-USP Laurindo Lalo Leal Filho, a decisão do SBT é “simplesmente corporativa”. “Trata-se de uma decisão para proteger a imagem da empresa que vinha sendo prejudicada com o destempero verbal da apresentadora. Não tem nada a ver com censura nem com uma preocupação da emissora com a questão dos direitos humanos”, avalia. “O SBT podia apoiá-la, arcar com os prejuízos e marcar uma posição. Mas preferiu não fazê-lo. Desautorizou a jornalista, mas isso não significa que não concorde com o que ela disse. Não foi uma questão de conteúdo, mas de forma. Ela só chamou atenção demais", disse Deco Ribeiro, também jornalista e diretor da Escola Jovem LGBT. O diretor da Escola Jovem LGBT considera a decisão da emissora foi um acerto. “As opiniões dela estavam se confundindo com a opinião do próprio SBT e essa proibição se deu porque o canal não assinou embaixo do que ela falava. Uma pena que tenha precisado toda uma comoção popular para o SBT tomar essa inciativa”, comenta Ribeiro. Lalo atenta para o fato de que as emissoras de televisão existem sob uma outorga concedida pelo Estado para prestarem o serviço da informação, e não da veiculação de opinião pessoal. “TVs são concessões públicas outorgadas pelo Estado em nome da sociedade para a prestação de serviços de informação, entre outros. Não tem que dar opinião. É absurdo uma emissora de TV veicular editoriais. A outorga que elas recebem não é para isso, elas têm que dar informação, promover debates, mostrar as diferentes correntes de opinião existentes na sociedade dando a oportunidade de escolha ao telespectador”, analisa o especialista. Deco Ribeiro comenta a respeito dos discursos conservadores e às vezes legitimadores da violência terem tanto espaço nos canais de televisão. “O discurso reacionário atende aos interesses de uma parcela específica da sociedade, aquela a qual pertence os donos dos meios de comunicação, e esses valores, por esta via, acabam permeando toda a sociedade, equivocadamente maquiando-se de senso comum. A luta por direitos humanos é justamente a luta para que uma maioria hipnotizada por esses valores reacionários trate com justiça populações minoritárias (em poder, não em número). É uma disputa de poder”, avalia o diretor da Escola Jovem LGBT. Laurindo Leal acredita que as emissoras televisivas do Brasil copiam o modelo norte-americano, onde os veículos “assumem posições políticas”. “O pior é que aqui não temos nenhum de centro, quanto mais de esquerda. São todos de direita. Se houvesse uma órgão regulador, uma de suas tarefas seria exigir das emissoras um equilíbrio informativo que não temos por aqui. O caso dessa apresentadora é apenas mais uma das consequências da falta que faz uma Lei de Meios no Brasil”, critica. Sheherazade declarou ontem que vai continuar a emitir as suas opiniões por meio das redes sociais e alega ter sofrido perseguição de grupos poderosos, porém, não especificou que grupos seriam esses.