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No debate "Tecnologia, cultura e dinâmicas sociais", professores abordaram a questão da violência da velocidade e os consequentes danos no cotidiano
Por Marcelo Hailer
Na segunda mesa do seminário “Cultura e Tecnologia”, que acontece durante todo o dia de hoje (24), os debatedores abordaram a questão da tecnologia, cultura e dinâmicas sociais, e como a tecnologia influencia e altera as relações do cotidiano. Participaram da mesa os professores Rafael de Paula Aguiar Araujo (Escola Sociologia e Política), Pablo Ortellado (USP) e Maria Gabriela Marinho (UFABC).
Rafael Araujo abriu a mesa abordando a questão de que a tecnologia está presente “desde o princípio da humanidade” e que a mesma “causa mudanças nas relações de espaço, na produção do capital, no controle social, na natureza e por fim nas relações sociais”. Araujo também comentou a respeito da velocidade com que o homem tem se transformado nos últimos anos.
“Daqui a 20 anos seremos muitos diferentes do homem que conhecemos hoje, assim como somos hoje do homem da caverna”, refletiu ele, que também atentou para o fato de que muitos jovens já não conseguem mais lidar com a ideia de que certos momentos históricos não possuem registros fotográficos, revelando um recente e forte impacto das novas tecnologias nas relações sociais.
Por fim, Araujo declarou que hoje vivemos no “totalitarismo da velocidade” e que os “homens são os colaboradores do seu próprio controle, contribuindo ao dar os seus dados que tornam possível, a partir da sua análise, se estabelecer padrões de consumo”.
Pablo Oterllado tratou do início da internet, que começou nas universidades e no exército, para depois falar do argumento de que as redes estão tendo um impacto nos movimentos sociais. Contudo, antes de avançar, utilizou a tipologia de Castells a respeito da comunicação: 1- Comunicação de massa: um emissor e vários receptores; 2- Telefone: interativo, mas de um para um; Auto- comunicação de massas (rede) – de um para muitos, de muitos para um.
Ortellado colocou que a grande diferença da rede é que ela é “participativa” e que os movimentos sociais perceberam isso nos anos 1990. “O primeiro boom da internet foi nos anos 90, quando os portais surgiram e tentaram impor o mesmo modo da TV, só de trocar de canais”, explicou.
“Já na década de 1970 os movimentos sociais trabalhavam com a ideia do modelo participativo e foram eles que identificaram na internet a possibilidade de levar o sistema horizontal para a rede, um modelo no qual todos participavam. Os movimentos acadêmicos e sociais moldaram a rede como a conhecemos derrotando o sistema de grandes portais que se tentou impor no início dos anos 1990”, disse Ortellado.
Por fim, a professora Maria Gabriela Marinho encerrou a mesa contando a história da fundação das universidades que, desde o começo, foram pensadas como espaços de poder “da elite”. Marinho também pontuou que a universidade foi criada para “estudar a tecnociência”.
Para Marinho, as universidades estão associadas a um projeto de poder político. “Elas produzem e reproduzem relações de poder”, disse a pesquisadora. Ainda de acordo com ela, as universidades sempre foram pensadas para “formar dirigentes”.
Para exemplificar sua argumentação, a professora fez um histórico do projeto da Universidade de São Paulo (USP) e depois comentou sobre a Universidade Federal do ABC (UFABC), falando a respeito do projeto de poder que envolve ambas, sendo que a primeira estaria ligada a um projeto elitista e a segunda a um novo modelo de formação de acadêmica. Hoje, ambas representariam dois tipos de projetos acadêmicos distintos, sendo um mais popular e o outro, mais elitista.