E por que mencionar aqui o erro alheio, se não é elegante com a concorrência? É que Veja assumir um erro é notícia.
Por Paulo Donizetti de Souza, da Revista do Brasil
[caption id="attachment_20727" align="alignleft" width="300"] Falha interna de procedimento (Reprodução: Infomoney)[/caption]Barriga é um antigo jargão das redações. Significa erro feio de informação. As publicações sérias costumam corrigir seus próprios erros e, elegantemente, evitam comentar o erro alheio. A menos que seja muito, muito grave.
No caso do site da revista Veja – que na quarta-feira (9) manteve por 22 minutos na manchete a fusão dos bancos Bradesco e Santander – digamos que a barriga não foi tão grave assim. Afinal, que importância teria o segundo maior banco privado do Brasil incorporar a unidade brasileira de um dos maiores bancos do mundo e se tornar o primeirão do país, superando Itaú Unibanco e até o Banco do Brasil?
Afinal, o boato é antigo e a tentação de dar o “furo”, sair na frente, é sempre grande no mercado editorial. Aqui mesmo na RBA foi mencionada sua circulação – quando as demissões em massa efetuadas pelo banco espanhol eram associadas a uma possível venda ao Bradesco.
E por que mencionar aqui o erro alheio, se não é elegante com a concorrência? É que Veja assumir um erro é notícia. Lembra outra expressão antiga das redações. Algo corriqueiro, que acontece com frequência, não é caso de manchete. Dizia-se: “Manchete é o homem morder o cachorro; e não o contrário”.
Denúncias de autoridades grampeadas sem revelar a fonte nem mostrar o áudio dos grampos, remessas fictícias de fortunas para contas em paraísos fiscais transformadas em “furos”; associação de profissionais da editora com a organização criminosa de Carlos Cachoeira para viabilizar operações políticas e “jornalísticas” e defesa de mútuos interesses... nada disso é caso de se desculpar, nem sequer de um “veja bem...”.
Então, manchete para o gesto nobre de Veja. Mais nobre até do que desmentir a invenção do boimate.
Está certo que foi meio assim, assim. Como diria o José Simão, a publicação da Editora Abril tucanou a barriga. Na nota que em que se desculpa, “explica” o erro, diz que o dito cujo foi decorrente de “falha interna de procedimento”.
O Infomoney publicou negativas sobre a transação. Leia aqui. (Ah, não, essa é de maio do ano passado. A atual é esta aqui).
Vamos e venhamos, instituições financeiras negarem boatos de fusões que depois acabam se confirmando equivale a um cachorro morder o homem. Mas Veja, ao admitir que errou – ainda que a motivação maior seja o peso dos anunciantes envolvidos –, mordeu o cachorro.
Leia a nota da Veja
Por uma falha interna de procedimento, durante 22 minutos, de 17h59 às 18h21 desta quarta-feira, o site de VEJA[maiúsculas do autor da nota] deixou no ar uma manchete errada sobre o que seria o anúncio da fusão dos bancos Bradesco e Santander. A informação foi corrigida em seguida pela redação do site, que publicou também os desmentidos oficiais dos bancos em questão. Essa falsa informação, que reaparece de tempos em tempos na internet, é fruto de boatos infundados que circulam há seis meses dando como fonte mensagens atribuídas a funcionários de um dos bancos. VEJA [idem] se desculpa com seus leitores por ter mantido por 22 minutos no site uma notícia errada que trazia no seu próprio enunciado a chave da sua falsidade. O texto dizia, infantilmente, que a negociação da fusão fora "informada" pela instituição a funcionários. Como qualquer pessoa do meio financeiro sabe, uma operação desse tipo tem que ser, por lei, mantida em absoluto sigilo e comunicada antes de qualquer outra forma de divulgação à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).