Conselho de Segurança restringe acesso de jornalistas a sala de conferências. Há poucos dias órgão já havia restringido acesso de representatens do ONGs no local.
Por Thalif Deen
A Associação dos Correspondentes nas Nações Unidas (Unca), que representa mais de 200 jornalistas acreditados na Organização das Nações Unidas, criticou o Conselho de Segurança por impor novas restrições ao trabalho da imprensa. O órgão político mais poderoso dentro da ONU argumentou “razões de segurança” para as novas limitações. O presidente da Unca, Giampaolo Pioli, disse, na semana passada, em carta ao Conselho, que as novas regras são “inaceitáveis, degradantes e um ataque sem precedentes à liberdade de imprensa” dentro das Nações Unidas.
O Conselho de Segurança é formado pelos membros permanentes China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia, e por dez não permanentes, que são atualmente Brasil, Áustria, Bósnia-Herzegovina, Gabão, Japão, Líbano, México, Nigéria, Turquia e Uganda.
É a segunda vez que a organização protesta contra restrições ao trabalho dos jornalistas. Na carta, a Unca responde diretamente a um memorando da Unidade de Coordenação e Credenciamento da Mídia da ONU que detalha as novas pautas de cobertura. Estas não só estabelecem até a forma como os jornalistas devem encontrar-se ou acompanhar os delegados e embaixadores nos corredores, como também quando devem deixar uma “área fechada” e até quando podem continuar conversando com funcionários.
“Consideramos muito ofensivo que as novas regras falem dos jornalistas como se fossem crianças indisciplinadas que precisam ser contidas para que não fiquem rondando por aí”, disse Pioli. O argumento de que as restrições “são todas por razões de segurança é absurdo”, acrescenta. A carta, dirigida ao embaixador do Japão, Yukio Takasu, atual presidente do Conselho de Segurança, diz que seria fácil resolver o problema se os 15 Estados que integram esse órgão mostrassem maior disposição em cooperar com os jornalistas credenciados na ONU.
A Unca disse que as preocupações com a segurança dos delegados são “fictícias e exageradas”, e alertou o Conselho de Segurança de que pode passar à história por criar “um novo sistema de castas para manter afastados os jornalistas, fortalecendo o segredo e reduzindo a transparência”. Os “jornalistas não ameaçaram no passado a segurança dos delegados, nem o farão no futuro”, disse Pioli. Se um correspondente, um delegado, um representante de uma organização não governamental ou um funcionário da ONU viola regras de segurança de senso comum e coloca alguém em risco, essa pessoa deve perder o direito de ingresso na sede das Nações Unidas, acrescentou.
As restrições aos jornalistas foram impostas no contexto da mudança temporária do Conselho de Segurança para uma sala de conferências, devido a obras no prédio da ONU. Há poucos dias houve uma polêmica semelhante quando, com o mesmo argumento, foi limitado o movimento de representantes de ONGs. O “Capital Máster Plan”, gigantesco projeto de remodelação de cinco anos ao custo de US$ 1,9 bilhão até 2013, é a principal desculpa para restringir o movimento dentro do edifício, explicou o diretor-executivo do não governamental Global Policy Forum, Jim Paul.
“A ONU parece tornar-se progressivamente mais hostil às ONGs, e os Estados-membros parecem seguir essa tendência”, disse Paul, em nome de uma coalizão de grupos da sociedade civil que protestaram contra as novas proibições. O vice-diretor do Comitê de Proteção dos Jornalistas, Roberto Mahoney, lamentou que “a segurança dos delegados se fortaleceu às custas de um cerco à imprensa”. Tanto diplomatas quanto correspondentes trabalham dentro de uma área segura com identificações visíveis. A ONU deveria ser um farol para o mundo em matéria de direitos humanos, incluindo a liberdade de imprensa, pois para isso que foi criada, disse Mahoney.
Com informações da IPS/Envolverde.