Editora de Berlusconi recusa livro de Saramago

A editora italiana Einaudi, propriedade do primeiro-ministro italiano, recusou-se a publicar a tradução italiana de "O Caderno", de José Saramago, por conter duras críticas a Silvio Berlusconi, classificando-o de "delinquente, corrupto, um líder mafioso"

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A editora italiana Einaudi, propriedade do primeiro-ministro italiano, recusou-se a publicar a tradução italiana de "O Caderno", de José Saramago, por conter duras críticas a Silvio Berlusconi, classificando-o de "delinquente, corrupto, um líder mafioso" Por Redação A editora italiana Einaudi, propriedade do primeiro-ministro italiano, recusou-se a publicar a tradução italiana de O Caderno, de José Saramago, por conter duras críticas a Silvio Berlusconi, classificando-o de "delinquente, corrupto, um líder mafioso". A Einaudi teve até hoje o exclusivo da publicação dos livros de Saramago em Itália, mas desta vez o seu livro ficará a cargo de outra editora. A notícia é avançada pelo diário italiano Corriere della Sera. O livro mais recente de Saramago - O Caderno - que reúne vários textos publicados no seu blogue, não vai ser publicado pela editora que já tinha feito sair 20 títulos do prêmio nobel na Itália. A razão é simples: a Eunadi é propriedade de Silvio Berlusconi e pediu a Saramago para eliminar algumas passagens do livro, algo que o escritor português recusou. A obra deverá agora ser publicada pela Bolatti Boringhieri, uma editora importante, mas pouco conhecida. A Eunadi não publica o livro principalmente pelo artigo intitulado "Berlusconi e Companhia", em que Saramago escreve: "Realmente, na terra da mafia e da camorra, que importância poderá ter o fato provado de o primeiro-ministro ser um delinquente?" E prossegue: "Numa terra em que a justiça nunca gozou de boa reputação, que mais dá que o primeiro-ministro faça aprovar leis à medida dos seus interesse, protegendo-se contra qualquer tentativa de punição dos seus desmandos e abusos de autoridade?" Um dos últimos textos de Saramago sobre Berlusconi chama-se "Suborno", referindo-se ao caso em que o primeiro-ministro italiano teria subornado o advogado britânico David Mills para "se limpar", tendo este advogado sido condenado a quatro anos e meio de prisão, sem que nada acontecesse a Berlusconi. Saramago termina desta forma o artigo: "Que uma vez digam e que se ouça em todo o mundo: "Demasiado abusaste de nós, Berlusc, a porta está ali, desaparece". E se essa porta for a da prisão, então poderemos dizer que justiça terá sido feita. Finalmente." Reagindo à decisão da Eunadi, citado pela revista L?Espresso" José Saramago mostrou-se conformado. "Simplesmente acontece que a editora é propriedade de Silvio Berlusconi, compreendo, entendo muito bem que a editora não queira editar livros que atacam o proprietário, atacam ou criticam". E acrescenta: "Isto não é nada dramático, é assim, até tenho a informação de que a Einaudi sofreu por se ter atrevido a publicar livros contra Silvio Berlusconi". No entanto, é na própria obra que Saramago trata com ironia a editora. "Uma vez que estou publicado na Itália pela Einaudi, que é propriedade de Berlusconi, fi-lo ganhar algum dinheiro", afirma o escritor. Por Esquerda.net. Leia a edição de Fórum com a participação de Saramago no FSM 2005.