No dia 18 de março de 2025, faleceu, aos 44 anos, Kanzi, um chimpanzé-pigmeu (bonobo) muito especial: ele era capaz de "falar". Quer dizer, comunicar-se com o uso de instrumentos simbólicos e produzir sentido, embora sem o ato próprio da fala.
Um macaco que fala inglês?
A ciência entendeu, com uma série de experimentos ao longo da segunda metade do século XX, que a anatomia dos chimpanzés não era própria para a fala.
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Por isso, a partir da década de 1960, uma abordagem diferente foi adotada: ensinar os primatas a se comunicarem por meio de símbolos.
Kanzi foi um fruto dessa tentativa.
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Créditos: Wikimedia commons
Durante a vida, ele, nascido em 1980, tornou-se um mestre da comunicação com símbolos. Ensinado desde pequeno a identificar contextos em um "dicionário" imagético, o primata "falante" dominou cerca de 300 símbolos diferentes, que conseguia combinar em estruturas quase frasais para se comunicar. Além disso, ele entendia inglês.
Inicialmente, a pesquisadora encarregada de ensinar sua "mãe adotiva", a chimpanzé Matata, tentou treiná-la a usar um sistema de lexigramas (símbolos visuais que correspondem a uma palavra ou frase específica). Mas Matata não compreendeu bem o sistema.
Kanzi, por outro lado, absorveu os ensinamentos da tutora de sua mãe de forma orgânica.
Embora ele não tenha se aproximado dessa "linguagem" de maneira curiosa, por simples interesse, mas sim de maneira estratégica (para exigir determinadas coisas), ele demonstrou uma habilidade impressionante para a comunicação.
Ele podia formar perguntas: no final da década de 1990, Kanzi se aproximou de um tabuleiro formado por símbolos coloridos em quadrados e apontou para o símbolo do "ovo"; em seguida, selecionou aquele que queria dizer "pergunta". Ele perguntava, de maneira intuitiva: "Isso é um ovo?"
A tabela usada por ele continha 300 lexigramas diferentes, e ele podia entender até três mil palavras faladas diferentes em inglês, e posicioná-las num contexto.
O vocabulário próprio de Kanzi, por sua vez, foi estimado em cerca de 500 palavras, que ele usava para se comunicar simbolicamente. Com o tempo, os lexigramas passaram a ser dispostos num teclado de computador, o que significa que ele conseguia formar pequenas frases com as palavras em sentido figurado, além de expressar sentimentos.
Ele tinha uma inteligência equivalente à de uma criança de três anos de idade: entre suas habilidades estavam, por exemplo, a capacidade de ir até uma máquina de comida, selecionar o que queria, pegar, cozinhar em um forno microondas e até escolher um filme para assistir na televisão.