Entre a Califórnia e o Havaí, ao longo de 1,6 milhão de quilômetros quadrados no Oceano Pacífico, uma grande mancha formada por cerca de 80 mil toneladas de lixo (com três vezes o tamanho da França) está à deriva.
A "sopa de plástico", como talvez seja mais apropriado chamar a Grande Mancha de Lixo do Pacífico (GPGP, sigla em inglês para The great pacific garbage pit) — o mundo produz mais de 400 milhões de toneladas de plástico anualmente, e pelo menos 150 milhões têm como destino os oceanos —, levanta preocupações entre os cientistas não só pelo acúmulo acelerado de materiais tóxicos no ambiente marinho, mas principalmente por sua interação com ecossistemas naturais.
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Um estudo publicado no periódico Nature avalia os riscos da mancha de plástico no oceano, também chamada de "vórtice de lixo" do Pacífico: espécies naturais de áreas costeiras têm colonizado águas abertas e se aglomerado em regiões que não costumavam habitar, atravessando a região através da "ilha de lixo" ou acoplando-se a ela.
Créditos: ecohubmap / reprodução
Mas a ilha também vai mudando de feição: formada pela decomposição de partículas flutuantes que se acumulam ao longo do tempo, os resíduos de mais de 80 mil toneladas de lixo começam a perder gradualmente suas características e sua "flutuabilidade", o que os faz afundar e formar um depósito no subsolo marinho.
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Ali, no fundo do oceano, também servem de alimento para outros organismos e oferecem o risco de influenciar o arranjo biológico ao fundirem-se a substratos duros.
Os substratos duros são uma espécie de "solo" mais compacto, que dificulta a absorção de água e nutrientes e a expansão das raízes das plantas. No oceano, os substratos duros não são cobertos por sedimentos soltos e tornam-se lar de microrganismos específicos. Esses, por sua vez, atraem espécies exóticas que se reproduzem na formação. Isso pode fazer com que espécies que antes não habitavam determinadas regiões passem a migrar, atraídas pelas novas condições criadas de maneira artificial pelo acúmulo de lixo.
A pesquisa que analisou a formação do lixo da grande mancha do Pacífico, com 105 amostras do plástico pescado da região, identificou mais de 400 organismos invertebrados nos detritos recuperados, que correspondiam a mais de 40 espécies diferentes. 80% das espécies analisadas pertenciam a áreas de zonas costeiras, o que comprova a teoria de que invadiram águas abertas por meio do lixo, que flutua durante anos, e cujas consequências da mobilidade ainda não podem ser estimadas.
Essas espécies, antes incapazes de deixar seus habitats, agora são transportadas pelo oceano, flutuando junto ao plástico, e reproduzindo-se ao longo da formação. Lá, não só sobrevivem, mas formam "populações complexas" de "estruturas comunitárias", conta o estudo.