Studio Ghibli no ChatGPT: 216 milhões de litros de água foram gastos com 'trend'

Gasto é o equivalente a 86 piscinas olímpicas de 2,5 milhões de litros em apenas uma semana, consumo massivo de recursos hídricos

Créditos: Sanket Mishra / Pexels
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Na última semana, redes sociais como TikTok, Instagram e X foram tomadas por uma avalanche de imagens que transformavam familiares, políticos e celebridades em personagens inspirados nos filmes do Studio Ghibli. Com traços que imitam o estilo das animações de Hayao Miyazaki, a febre foi impulsionada pela atualização da OpenAI — que sobrecarregou os servidores do ChatGPT nos primeiros dias.

A IA generativa, que contava com aproximadamente 400 milhões de usuários semanais, registrou um pico de acessos de até 1 milhão em apenas uma hora. O aumento repentino sobrecarregou suas GPUs (unidades de processamento gráfico) e levou a empresa a considerar melhorias em sua infraestrutura. Como repercutido com antecedência pela Fórum, não é apenas uma trend inofensiva e divertida, mas um fator de risco ambiental.

Estimativas do site Infobae apontam que cerca de 216 milhões de litros de água foram consumidos com as solicitações de imagens do Studio Ghibli ao ChatGPT em uma semana. A quantidade equivale ao que uma cidade pequena consome em um mês inteiro. Para se ter outra ideia da dimensão, com 216 milhões de litros de água seria possível encher cerca de 86 piscinas olímpicas — cada uma com capacidade para 2,5 milhões de litros.

Por trás de cada imagem gerada por ferramentas como ChatGPT, Midjourney, DALL·E ou Stable Diffusion, existe uma complexa rede de servidores que precisa ser mantida em temperaturas controladas. Para isso, os data centers que sustentam essas plataformas utilizam grandes volumes de água no resfriamento dos chips de alto desempenho responsáveis por processar as demandas de milhões de usuários ao redor do mundo.

O CEO da OpenAI, Sam Altman, mencionou que seria necessário reduzir temporariamente as taxas de geração do ChatGPT para otimizar a performance. “Nossas GPUs estão derretendo”, escreveu no X.

LEIA AQUI: Studio Ghibli no ChatGPT: uso de IA para reproduzir estilo usurpa conceito da arte e amplia impacto ambiental

O custo alto se deve principalmente à renderização de imagens geradas com a IA, processo pelo qual um modelo digital é estilizado a partir de descrições textuais. Isso envolve o uso de redes neurais de aprendizado profundo, além de filtros e correções, e recursos como o "upscaling", que reconstrói detalhes e aumenta a resolução de imagens para torná-las mais nítidas e realistas.

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Arte anticapitalista, verdadeira, artesanal e humana

Cena de O Castelo Animado. Foto: Studio Ghibli/reprodução

Não é a primeira vez que profissionais da indústria criativa, como escritores, atores, músicos e artistas visuais, expressam preocupações com a questão. Em 2024, mais de 10 mil artistas, incluindo o escritor Kazuo Ishiguro, a atriz Julianne Moore e o músico Thom Yorke, do Radiohead, assinaram uma carta aberta condenando o "uso não autorizado de obras criativas" para treinar modelos de IA.

O criador do desenho e  cofundador do Studio Ghibli, Hayao Miyazaki, também tinha se posicionado contra o uso da reprodução da arte na inteligência artificial em 2016, quando lhe mostraram um exemplo de animação criada pelos algoritmos.

"Estou completamente enojado. Se você realmente quer fazer coisas assustadoras, pode ir em frente e fazer. Eu nunca desejaria incorporar essa tecnologia ao meu trabalho. Eu sinto fortemente que isso é um insulto à própria vida", disse Miyazaki.

Karla Ortiz, artista que cresceu com os filmes das ilustrações Studio Ghibli, move uma ação judicial contra as ferramentas de IA que geram imagens a partir da arte humana. “Eles estão explorando o nome, a marca e a reputação do Ghibli para divulgar (os produtos da OpenAI). Isso é uma exploração”, comentou em declaração à AP News.

A artista também criticou o uso de uma imagem no estilo Ghibli pela conta oficial do governo Trump, que mostrava uma mulher negra chorando após ser detida por agentes de imigração dos EUA.  “É devastador ver algo tão maravilhoso como o trabalho de Miyazaki ser usado para criar algo tão repugnante”, escreveu ela nas redes sociais.

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