Apenas sete países cumprem diretrizes da OMS sobre poluição do ar, revela estudo

Pesquisa se baseou na média de dados de monitoramento da poluição do ar ao longo de um ano, coletados por sensores instalados em diversos locais

Poluição e qualidade do ar ruim na cidade de São Paulo.Créditos: Paulo Pinto/Agencia Brasil
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Um levantamento global revelou que quase todos os países apresentam níveis de poluição do ar superiores aos recomendados por especialistas em saúde. De acordo com uma análise conduzida pela empresa suíça de tecnologia ambiental IQAir, apenas sete nações cumpriram os padrões estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para partículas finas conhecidas como PM2,5 ao longo do último ano.

Entre os países que atenderam ao limite anual máximo de 5 microgramas por metro cúbico dessas partículas estão Austrália, Nova Zelândia, Estônia, Islândia e algumas pequenas ilhas-estado. Por outro lado, as nações com os piores índices de poluição incluem Chade, Bangladesh, Paquistão, República Democrática do Congo e Índia. Nestes países, as concentrações de PM2,5 foram pelo menos dez vezes superiores ao limite recomendado, chegando a ser 18 vezes maiores no Chade.

As partículas PM2,5 são extremamente nocivas à saúde por sua capacidade de penetrar na corrente sanguínea e atingir órgãos vitais. Pesquisadores alertam que, embora os efeitos da exposição prolongada não sejam imediatos, podem levar a sérias complicações ao longo das décadas. Segundo estimativas, milhões de vidas poderiam ser preservadas anualmente se as diretrizes da OMS fossem seguidas. O ar poluído é considerado o segundo maior fator de risco para mortalidade global, ficando atrás apenas da hipertensão arterial.

Apesar do cenário preocupante, o relatório também destacou avanços em algumas regiões. O número de cidades que atingiram os padrões de qualidade do ar aumentou de 9% em 2023 para 17% em 2024. Na Índia, que abriga seis das dez cidades mais poluídas do mundo, houve uma redução de 7% nos níveis de PM2,5. A China também apresentou melhora na qualidade do ar, refletindo uma tendência de longo prazo que resultou na redução da poluição extrema em quase 50% entre 2013 e 2020.

Outro dado relevante é que a qualidade do ar em Pequim agora se aproxima da registrada em Sarajevo, capital da Bósnia e Herzegovina, cidade que se manteve como a mais poluída da Europa pelo segundo ano consecutivo. A desigualdade na exposição à poluição dentro do próprio continente europeu também foi evidenciada, conforme destacou a epidemiologista ambiental Zorana Jovanovic Andersen, da Universidade de Copenhague. Segundo ela, países dos Bálcãs que não integram a União Europeia apresentam níveis de PM2,5 até 20 vezes superiores aos registrados nas cidades menos poluídas da Europa Ocidental.

Para mitigar os impactos da poluição do ar, especialistas recomendam que governos invistam em projetos de energia renovável, ampliem as redes de transporte público e incentivem a mobilidade sustentável por meio da infraestrutura para pedestres e ciclistas. Além disso, medidas como a proibição da queima de resíduos agrícolas poderiam contribuir para a melhoria da qualidade do ar.

A pesquisa da IQAir se baseou na média de dados de monitoramento da poluição do ar ao longo de um ano, coletados por sensores instalados em diversos locais. Cerca de um terço desses equipamentos são operados por órgãos governamentais, enquanto os demais pertencem a organizações sem fins lucrativos, instituições de ensino e cidadãos. No entanto, a falta de estações de monitoramento em diversas regiões da África e da Ásia Ocidental dificultou a análise em alguns países. De modo geral, nações mais pobres tendem a enfrentar níveis mais elevados de poluição atmosférica, mas frequentemente carecem de infraestrutura para medir e combater o problema.

O epidemiologista ambiental Roel Vermeulen, da Universidade de Utrecht, que não participou do estudo, destaca que as diferenças na disponibilidade de dados podem influenciar os resultados. No entanto, afirmou que as conclusões apresentadas para a Europa estão alinhadas com pesquisas anteriores. "Quase toda a população mundial respira um ar de qualidade inferior à ideal", ressaltou. "O que mais impressiona é a enorme desigualdade na exposição à poluição entre diferentes regiões do planeta."

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