TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE

Big techs e ChatGPT vão gerar alto custo ao meio ambiente e à saúde pública, aponta estudo

Impacto da poluição atmosférica gerada por pesquisas em datacenters será maior do que o causado pelas indústrias e automóveis até 2030

Datacenters nos EUA.Créditos: Wikimedia Commons
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

Um novo estudo intitulado "The Unpaid Toll: Quantifying the Public Health Impact of AI" (O pedágio não pago: quantificando o impacto da IA na saúde pública), alerta para o aumento de informações geradas por inteligência artificial (IA) por solicitações de usuários - impulsionado por gigantescos data centers, que podem causar  impacto devastador na saúde pública, além do alto nível de poluição atmosférica.

Cientistas estadunidenses estimam que a poluição gerada por esses centros de dados pode levar a mais de 1,3 mil mortes prematuras por ano nos Estados Unidos nos próximos cinco anos. A inserção cada vez mais integrada da IA nas atividades diárias da população está levando a um aumento da poluição do ar, que envolve partículas finas prejudiciais aos pulmões e outros poluentes regulamentados, como os óxidos de nitrogênio, de acordo com autoridades federais dos EUA.

Até 2030, o estudo aponta que o impacto da IA na saúde pública pode ser duas vezes maior do que o causado pela indústria siderúrgica nos EUA, podendo ainda se igualar ao impacto de todos os veículos da Califórnia, como carros, ônibus e caminhões. 

O relatório cita, como exemplo, a geração de eletricidade necessária para treinar um modelo de linguagem de grande escala, como o Llama-3.1 da Meta, lançado em julho de 2024. A poluição do ar gerada seria equivalente a mais de 10 mil viagens de ida e volta de carro entre Los Angeles e Nova York.

Altos custos

Além disso, os custos relacionados à saúde pública, que incluem o tratamento de câncer, asma e a compensação pelos dias perdidos no trabalho e na escola, são estimados em aproximadamente US$ 20 bilhões (R$ 100 trilhões) por ano. Os custos associados à IA costumam ser analisados em termos do consumo de energia elétrica, das emissões de carbono e da quantidade de água exigida para manter os data centers em funcionamento.

Apesar de a IA ser o novo padrão tecnológico, a responsabilidade da indústria pelos impactos ambientais e de saúde pública precisa ser levada em conta. Os autores recomendam que sejam estabelecidos padrões que obriguem as empresas de tecnologia a reportar a poluição do ar gerada pelo uso de energia e pelos geradores de backup, para que os custos ocultos possam ser adequadamente considerados.

"Embora esses custos sejam realmente importantes, eles não são o que impactará as comunidades locais onde os data centers estão sendo construídos", afirmou Adam Wierman, coautor e diretor de Ciência da Informação e Tecnologia da Caltech, em comunicado.

Em setembro do ano passado, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) publicou um comunicado no qual destacou os problemas ambientais associados ao aumento do uso da IA e à crescente capacidade dos data centers. Por um lado, é importante reconhecer o papel da IA como uma ferramenta fundamental no combate às emergências ambientais. Como destacou o PNUMA, a tecnologia já é empregada para mapear a destruição causada pela dragagem de areia e monitorar as emissões de metano, um potente gás de efeito estufa (GEE).

Por outro lado, a proliferação de data centers que armazenam servidores de IA resulta na produção de lixo eletrônico. A agência da ONU observa que esses centros consomem grandes quantidades de água, um recurso cada vez mais escasso em várias regiões, e dependem de minerais e elementos raros, cuja extração frequentemente ocorre de forma insustentável. Além disso, esses centros de dados consomem uma enorme quantidade de eletricidade, o que contribui para a emissão de GEE e acelera o aquecimento global.

1 solicitação pelo ChatGPT consome 10x mais eletricidade que pesquisa no Google

O Google é um exemplo claro do impacto ambiental resultante do aumento do uso da IA. Em seu relatório ambiental de 2024, divulgado em julho, a empresa informou que suas emissões cresceram quase 50% desde 2019. Esse aumento está relacionado ao maior consumo de energia nos data centers e às emissões geradas pela cadeia de suprimentos, ambos impulsionados pela crescente demanda por IA.

"Embora ainda haja muito a ser descoberto sobre o impacto ambiental da IA, os dados disponíveis já são preocupantes. Precisamos garantir que o impacto líquido da IA no planeta seja positivo antes de implementar a tecnologia em grande escala", destacou Golestan (Sally) Radwan, diretor Digital do PNUMA.

Estimativas do Departamento de Energia dos EUA indicam que o consumo de energia pelos data centers pode aumentar de duas a três vezes até 2028. Em 2023, esses centros de dados produziram pelo menos 106 milhões de toneladas métricas de emissões, o que equivale a quase as 131 milhões de toneladas métricas de CO2 emitidas pela indústria de aviação comercial dos EUA anualmente, conforme a MIT Technology Review.

Para operar seus equipamentos de grande porte, os data centers demandam uma grande quantidade de energia, frequentemente gerada pela queima de combustíveis fósseis. De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), uma interação com o ChatGPT consome dez vezes mais eletricidade do que uma pesquisa no Google.

A AIE ainda prevê que, até 2026, os data centers na Irlanda possam consumir quase 35% da energia do país, ou seja, cerca de um terço do total. Nos últimos anos, a quantidade de data centers no mundo cresceu de forma exponencial. Em 2012, eram cerca de 500 mil, enquanto hoje o número ultrapassa 8 milhões. Esse ritmo de crescimento da tecnologia indica que as necessidades energéticas continuarão a aumentar consideravelmente.

*Com informações de Fast Company Brasil

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