A morte de 350 elefantes em Botsuana em 2020 foi considerada à época um dos maiores eventos de mortalidade de grandes mamíferos selvagens no sul da África nos últimos anos.
Era um momento no pico da pandemia de covid-19, o que acabou dificultando as tentativas de responder e investigar o porquê do evento. Ainda que a área fosse um conhecido ponto crítico de caça em Botsuana, isso foi descartado, pois as carcaças de elefantes foram encontradas com presas intactas, o que indicava não ser obra de caçadores atrás de marfim.
A idade dos animais e a falta de sinais clínicos sugeriram que causas virais e bacterianas seriam improváveis. A partir daí, algas tóxicas se tornaram as principais suspeitas.
E um estudo realizado por pesquisadores de universidades britânicas e de Botsuana mostrou que as algas seriam, de fato, as responsáveis.
O que analisaram os pesquisadores
Os resultados que comparam a localização das carcaças de elefantes com poços revelam que aqueles mais próximos dos animais mortos continham níveis mais elevados de algas, sugerindo que os animais morreram em decorrência da ingestão da água com elevado grau de toxicidade.
E aí entram as mudanças climáticas. A proliferação anormal de algas provavelmente foi desencadeada pelas alterações no clima, já que 2020 teve um nível de chuvas muito acima da média na região, enquanto 2019 foi o ano mais seco em décadas.
“Botsuana abriga um terço de todos os elefantes africanos, e essa mortandade sem precedentes dentro de sua maior população remanescente ressalta as crescentes preocupações em torno do impacto da seca e das mudanças climáticas no Delta do Okavango, um dos ecossistemas mais importantes do mundo”, disse Davide Lomeo, aluno de doutorado no Departamento de Geografia do King's College London e co-supervisionado pelo Plymouth Marine Laboratory e pelo Museu de História Natural, em um comunicado a respeito da pesquisa.
E o estudo alerta ainda que o evento ocorrido em Botsuana ilustra um perigo para todo o planeta. "Globalmente, esse evento ressalta a tendência alarmante de doenças repentinas induzidas pelo clima, refletindo os impactos mais amplos e devastadores das mudanças climáticas na biodiversidade e na saúde do ecossistema", apontam os pesquisadores.