FAKE BELGA

Baleia aparece morta em Baku, só que não

Instalação viajou desde a Bélgica

Parece mas não é.A instalação é tão realista que desperta choque em quem se aproxima.Créditos: Luiz Carlos Azenha
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

De Baku, Azerbaijão -- Centenas de pessoas tem passado o dia nas redondezas do cartão postal de Baku, na costa do Mar Cáspio, assustadas com a cena: uma imensa baleia cachalote encalhada numa calçada.

Homens e mulheres vestindo avental simulam exames no bicho.

Um sujeito que se apresenta como Tim diz a quem quiser ouvir que a baleia veio parar no mar Cáspio por causa de um oligarca do Cazaquistão, cujo hobbie seria capturar baleias jovens para seu zoológico pessoal.

A história ganha ares de veracidade por causa da riqueza de detalhes da instalação artística.

Baleia fake

Na verdade, a baleia fake veio da Bélgica por via terrestre, atravessando a Turquia e a Geórgia.

A ideia de colocá-la em Baku tem relação com a COP29.

É uma forma inusitada de despertar interesse sobre questões ambientais.

O coletivo que promove a instalação, batizado de Capitão Boomer, já fez o mesmo em Madri e Varsóvia.

O próprio grupo se define assim:

O Capitão Boomer não é um brincalhão, nem um tolo. Mas ele é decididamente original e tem uma ideia vaga e modesta de si mesmo como uma figura lendária. O Coletivo Captain Boomer foi fundado em 2008 e tem sede em Antuérpia, Bélgica. Criamos projetos totalmente baseados em locação, que exploram as fronteiras entre a realidade e a ficção.

O contador de causos faz tudo parecer dramático e sensacional

No Congo, não foi instalação

Tim, o "especialista" da inexistente Associação Internacional das Baleias, engaja o ouvinte numa história mirabolante de que tentou salvar o mamífero, mas não chegou a tempo.

Aponta para a cabeça do animal fake e diz que as marcas visíveis foram causadas por lulas.

Tudo fruto de uma imaginação fértil, o que não surpreende para quem é originário da Bélgica, país de muitas histórias verdadeiras e surreais.

O rei Leopoldo II, que governou os belgas entre 1865 e 1909, fez do Congo sua propriedade pessoal, como se fosse dono de uma imensa fazenda no coração da África.

No processo, matou direta ou indiretamente milhões de congoleses.

Ainda hoje, barris lotados de coltan, um mineral importante para a produção de eletrônicos, são contrabandeados do Congo para a Bélgica.

Um dos museus mais importantes de Bruxelas até recentemente expunha elefantes inteiros, empalhados, trazidos da África.

Neste caso, não se trata de uma instalação artística, mas da dura realidade do colonialismo, que subsiste de várias maneiras -- inclusive no formato cultural.