SIBÉRIA

O que está por trás das enormes crateras explosivas abertas na Sibéria

As mais de 17 crateras, algumas com até 70 metros de profundidade, têm causado explosões e incêndios na região, e preocupam cientistas

Cratera na Sibéria.Créditos: Fragmento de vídeo
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

Em 2014, de acordo com a BBC, pilotos de helicóptero que sobrevoavam a Península de Yamal, na região norte da Rússia, praticamente desabitada e formada por permafrost (solo característico da Sibéria, que permanece congelado pela maior parte do tempo), avistaram uma cratera misteriosa e de enormes proporções. 

Hoje conhecida como GEC-1 (após ter sido analisada por imagens de satélite), essa cratera, localizada a cerca de 42 km de um reservatório de petróleo (Bovanenkovo), é apenas mais uma das pelo menos 17 crateras gigantes que se abriram no permafrost siberiano ao longo dos últimos anos. 

Descritas como buracos irregulares de formato cilíndrico e interior negro, as crateras — algumas com até 70 metros de profundidade — formam poças d'água ao fundo e estão cercadas, nas bordas, por raízes, terra e cinzas — sinais de que uma explosão ocorreu ali.

A primeira delas, a GEC-1, pode ter sido formada ainda em 2013, e a mais recente, identificada por uma equipe de cientistas russos, foi avistada em 2020. 

Para os pesquisadores, essas formações misteriosas podem indicar uma mudança importante no permafrost, já que são provavelmente derivadas de um processo de derretimento do gelo que forma a superfície do solo. 

Mas o mais interessante é a maneira como esses buracos enormes são formados: tudo indica que aparecem por explosões do solo congelado, que, sujeito a uma alta pressão, se rompe violentamente, causando o deslocamento de terra, pedras de gelo e rochas. 

Elas são como explosões de criovulcões, aqueles típicos de planetas de interior gélido, que, quando sujeitos a uma pressão excessiva, expelem magma "gelado".

Para Evgeny Chuvilin, geólogo do Instituto de Ciência e Tecnologia de Skolkovo, ouvido pela BBC, as explosões ocorrem quando picos de colinas congeladas "se elevam" e, devido ao acúmulo de gás metano, são levados a explodir de baixo para cima.

Isso se deve às características geológicas da região, composta por alta concentração de fósseis (petróleo e gás natural), ou até à natureza dos cristais de água que formam o gelo do permafrost, que podem acumular gás no seu interior.

Mas elas representam também uma ameaça climática: essa alta liberação de gás metano, um dos gases que colaboram com o agravamento do efeito estufa, pode aumentar o ciclo do degelo avistado em algumas regiões do Ártico, em que o solo já até se torna verde em partes do ano — algo incomum e preocupante.

As altas quantidades de gás também podem fazer com que o solo se torne mais permeável. A presença de água no fundo das crateras, quando somada ao gás preso ali, causa uma espécie estranha de borbulhamento.

De acordo com comunidades locais, as "explosões de gelo" que formam as crateras costumam causar incêndios que se estendem por vários metros de altura, o que se torna ainda mais preocupante em vista da infraestrutura de oleodutos e gasodutos instalados em toda a península para escoar os recursos da região.

Conforme as investigações avançam, pesquisadores esperam ser capazes de prever futuras explosões a fim de mitigar os impactos ambientais dessa misteriosa transformação no Ártico.