Um filhote de cobra naja desapareceu dos laboratórios do Instituto Butantan no começo de maio e o caso só foi noticiado nesta quarta-feira (22), pelo Uol. De acordo com informações preliminares, o animal sumiu de um local distante da área de visitação, aberta ao público, e a instituição não acredita que o réptil possa ir longe.
As câmeras de segurança do laboratório, que é frequentado por pesquisadores, não registraram a fuga da pequena naja. Armadilhas foram colocadas ao redor do local, mas nada foi encontrado nelas.
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De acordo com a assessoria do Butantan, todas as cobras da instituição recebem chips que contêm, entre outras informações, a localização do animal. Essa naja, no entanto, não foi chipada. Por ser filhote, ainda não tinha atingido a idade e o tamanho necessários para o procedimento.
A cobra estava armazenada num recipiente de plástico com furos para respiração, pelos quais não teria como passar. A principal hipótese é de que ela tenha escapado por um ralo usado para a limpeza do local e que tenha morrido no encanamento do Butantan. Os pesquisadores acreditam que as chances de a naja ter saído viva são muito remotas.
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Em todo caso, mesmo que tenha saído, os pesquisadores apontam que as chances de sobrevivência do animal são pequenas. Ainda que não tenha predadores naturais, por não ter atingido um tamanho grande, pode ser predada por gambás saruê ou lagartos teiú – que costumam comer pequenas cobras brasileiras.
E ainda que ambas as possibilidades estejam erradas e o animal sobreviver e atinja a idade adulta, o Instituto Butantan ainda informou que dispõe de antídotos para o seu veneno. Isso significa que um eventual – e inédito – acidente com a naja poderá ser remediado. O Butantan realiza uma série de estudos sobre os répteis e é responsável, entre outras coisas, pela produção dos soros antiofídicos e vacinas brasileiras.
Acidentes com cobras
Ainda que as chances de sermos picados pela pequena naja sejam muito remotas, mesmo para vizinhos do Instituto Butantan, acidentes com cobras peçonhentas são comuns no Brasil. Cerca de 70% dos acidentes são com jararacas, donas de um veneno poderosíssimo.
Quando uma pessoa é vítima de um acidente com serpente peçonhenta, é necessário mantê-la calma, hidratada e acordada. Também é essencial que saiba a espécie envolvida no acidente ou que se façam imagens da mesma. Em seguida, vá ao pronto-socorro, hospital ou centro de saúde mais próximo para receber o soro antiofídico correspondente.
A naja
A naja é famosa por um acabamento bem específico em seu pescoço que lhe dá um aspecto físico único quando o animal está em perigo ou enraivecido. O local incha, tornando-a aparentemente maior com o “agregado” à parte superior do corpo.
Najas são, na verdade, um gênero de serpentes peçonhentas da família Elapidae (cobras). São cerca de 20 espécies que compõem o gênero. Não há informações precisas sobre qual seria a do Butantan. Algumas dessas espécies terão, além do pescoço inchado e do próprio veneno, um terceiro ‘item’ de defesa. Trata-se de um círculo branco na parte de trás da cabeça que pode fazer com que predadores a confundam com os olhos de um animal maior.
Na indústria cultural, geralmente são retratadas como as “cobras encantadas dos indianos” – que saem de baldes ao som da flauta – ou como perigosos animais do deserto do Saara. O dado indica a localização do habitat natural dessas espécies, que podem ser encontradas em toda a África e na porção sul da Ásia.
De corpo delgado, podem atingir em média 1,80 metros de comprimento. Sua mordida, em quase todas as espécies, pode ser mortal para o ser humano. O veneno é neurotóxico e ataca o sistema nervoso, causando paralisia, e também citotóxico, podendo provocar inchaço, necrose e efeitos anticoagulantes.
Espécies invasoras
Espécies invasoras – que não são naturais de determinado lugar – podem causar desequilíbrio ambiental, mas não no caso da pequena cobra naja que pode sequer ter sobrevivido ao encanamento do Butantan. Mesmo que o faça, não poderá se reproduzir. Mas isso não significa que o assunto deva ser ignorado.
A história dos hipopótamos levados para a Amazônia colombiana pelo icônico narcotraficante Pablo Escobar é, talvez, a mais famosa da atualidade a respeito de espécies invasoras que causam impactos ambientais onde são introduzidas, sobretudo reduzindo a biodiversidade. Nesse caso, Escobar trouxe os animais africanos para o seu zoológico particular, em propriedade no meio da floresta. Mas os problemas na Justiça que o chefão do tráfico enfrentou acabaram levando ao abandono do local, e os animais escaparam e passaram a viver soltos na região, causando uma série de danos ambientais e sociais, inclusive tendo matado seres humanos que vivem em comunidades indígenas e tradicionais dada a agressividade da espécie.
Mas a questão das espécies invasoras, que engloba plantas e animais, é muito mais complexa. Assim como no caso de Pablo Escobar, uma das maneiras mais comuns de uma espécie invadir um determinado ecossistema é a ação humana – o incomum desse caso é a criação de um zoológico particular. No geral, é a ação humana a principal promotora das invasões, seja pelo comércio e criação direta dos animais e plantas invasoras, seja de forma indireta, sobretudo a partir do desenvolvimento dos transportes e do turismo, onde muitas dessas espécies podem pegar uma carona para lugares distintos do seu habitat natural.
Há ainda os casos de animais e plantas domésticos, como cães e gatos, que muitas vezes são abandonados em ambientes naturais, e os casos de tráfico de fauna e flora exóticas. O problema é que essas espécies invasoras, em geral, não encontram predadores e, ao mesmo tempo, competem com as espécies locais por comida, espaço e abrigo, alterando o equilíbrio ecológico. Entre os impactos finais da invasão, podem ser verificadas extinções de populações inteiras de espécies nativas e a transmissão de doenças, o que pode provocar a redução da biodiversidade de determinada região, podendo afetar inclusive, a saúde e a economia humana.
Uma pesquisa da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês) apontou que os prejuízos globais decorrentes da ação de espécies invasoras estão na ordem de R$2,1 trilhões, ou 423 bilhões de dólares. Além dos impactos econômicos, medidos pelo desequilíbrio ambiental e sua influência em atividades humanas – em especial na produção de alimentos –, o prejuízo também é calculado com relação a extinção de espécies.
“As espécies invasoras influenciaram 60% e foram a maior causa de 16% das extinções globais de animais e plantas que registramos”, afirmou Aníbal Pauchard, professor da Universidade de Concepción, no Chile, que participou da elaboração do relatório.
A introdução de espécies invasoras figura ao lado do tráfico, da caça, da poluição, das práticas econômicas extrativas e das mudanças climáticas entre as principais causas da perda de biodiversidade em todo o mundo.
De acordo com o estudo, produzido ao longo de 4 anos por 86 cientistas de 49 países, mais de 37 mil espécies foram introduzidas em todo o planeta em ambientes que não eram seus habitats naturais. Entre elas, 3500 são nocivas diretamente ao organismo humano e 2300 foram registradas em terras indígenas, ameaçando o próprio ecossistema onde as comunidades se reproduzem socialmente. Ainda, doenças como a malária e a zika também costumam ser transmissíveis através de espécies invasoras.
“Espécies invasoras muitas vezes são ignoradas até que seja tarde demais, são um grande desafio em todos os países”, afirma nota da IPBES assinada pela pesquisadora Helen Roy, do Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido.
No Brasil há cinco entre as principais espécies invasoras: Caramujo-gigante-africano, javali, carol-sol, mexilhão-dourado e sagui. Clique aqui e saiba mais.