Em tempos caóticos de fake news que atacam evolução das espécies, vacinas e aquecimento global, o negacionismo capitaneado, sobretudo, pela extrema direita, também vai para a cima da importância da conservação do meio ambiente.
Um exemplo desse tipo de conduta criminosa foi a postagem do ex-presidente Jair Bolsonaro neste sábado (18). Em meio à maior tragédia climática do Brasil, que já deixou 155 mortos e afetou 2,2 milhões dos cerca de 10 milhões de habitantes do Rio Grande do Sul, o inelegível teve um surto anti-ciência um dia após deixar o hospital Vila Nova Star, em São Paulo.
O que diz a ciência
Para neutralizar essa enxurrada de mentiras que só prejudicam, o refúgio é a ciência. Neste sábado, um estudo prova exatamente oposto do que apregoa Bolsonaro: conservar o meio ambiente com iniciativas como a criação de áreas protegidas, controle de espécies e a restauração da vegetação nativa são ações eficazes para melhorar a biodiversidade e desacelerar o desequilíbrio dos ecossistemas.
Essas foram as conclusões do estudo intitulado "O impacto positivo da ação de conservação" (The positive impact of conservation action), publicado recentemente na Science, um dos periódicos científicos mais prestigiados do mundo.
O trabalho apresenta resultados alcançados em 2021, com base na análise de 186 pesquisas e 665 ensaios de diversas partes do mundo, abrangendo um século de investigações científicas sobre iniciativas de conservação da biodiversidade.
Os resultados, obtidos em escala global, foram divulgados no Brasil pelo pesquisador Martin Harper, da rede global Birdlife Internacional.
Sobre o Brasil
Pedro Develey, diretor executivo da Save Brasil, integrante da Birdlife Internacional, destaca em entrevista à Agência Brasil que a insuficiência de ações de conservação impacta negativamente, de forma mais acentuada, países com alta biodiversidade, como o Brasil. Ele cita catástrofes climáticas no Rio Grande do Sul como exemplo da urgência de mais investimentos.
“Precisamos de mais incentivo e recursos para pesquisa e conservação, que são caros, mas a restauração é ainda mais cara”, enfatizou Develey.
As pesquisas brasileiras incluídas no estudo também apontaram a eficácia da destinação de terras públicas para a criação de unidades de conservação e territórios indígenas na Amazônia.
Develey considera que isso traz orientações importantes para o Brasil, mostrando que, apesar de uma legislação forte, ainda é necessário efetivar ações como a destinação adequada de terras públicas, a regularização fundiária em áreas privadas e uma fiscalização maior sobre o manejo dos biomas.
“Com vontade política, tudo isso é possível, mas é preciso também apoio da sociedade, pois a conservação é importante para todos, é crucial para a nossa vida.”
Conservar o meio ambiente adia o fim do mundo
Segundo o estudo, a efetividade das ações foi comprovada em mais de 50% das amostras de pesquisas e em dois terços dos casos analisados, desacelerando o declínio da biodiversidade, como a perda de espécies da fauna e flora. Outra conclusão é que essas ações são eficazes em diferentes localizações geográficas, biomas e sistemas políticos.
Harper destaca que o estudo busca fornecer evidências científicas para orientar a construção de políticas públicas e legislações em diversos países.
“É fundamental que os governos em todo o mundo traduzam os compromissos descritos no Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal – adotado por quase 200 países em 2022 – em estratégias nacionais e planos de ação apoiados por financiamento adequado.”
Apesar dos efeitos positivos das ações de conservação, a pesquisa também ressalta o contínuo declínio da biodiversidade, um dado corroborado por outros estudos, como o da União Internacional para Conservação da Natureza, que documenta 44 mil espécies em risco de extinção.
Para Harper, é possível concluir que o volume das ações de conservação ambiental ainda é insuficiente para manter os serviços ecossistêmicos equilibrados. “O Fórum Econômico Mundial sugeriu que a perda de biodiversidade e o colapso dos ecossistemas são o terceiro maior risco para a economia mundial na próxima década”, afirmou.
Com informações da Agência Brasil