ATIVISMO JOVEM

COP-28: Conheça a delegação de jovens que vai representar o Brasil na conferência

Ativistas querem debate justo sobre crise climática e representatividade do Sul Global

Jovens ativistas representam o Brasil na Conferência do Clima da ONU.Créditos: Reprodução/Engajamundo/Brasiliana Studio
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

Entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro de 2023, acontece a 28ª Conferência das Partes (COP-28), em Dubai, nos Emirados Árabes, para discutir os impactos das mudanças climáticas e buscar soluções de adaptação à nova realidade: temos até 2030 para reverter o quadro de aquecimento global, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)

O evento reúne autoridades oficiais dos países que participam da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC). Do outro lado, temos os ativistas climáticos de organizações da sociedade civil, como a rede de ativismo jovem Engajamundo, que vai enviar 14 membros para representar e defender  o Brasil.

“Espaços políticos de tomada de decisão são extremamente importantes para o presente e futuro de todos nós. Entretanto, enquanto jovens da sociedade civil brasileira, estar presente nestes espaços é tão necessário quanto desafiador."

Uma questão debatida pelos movimentos de ativismo sobre a COP é a falta de representatividade de alguns grupos: as discussões deixam de fora quem mais sofre com as mudanças climáticas, como as populações periféricas, indígenas e de países subdesenvolvidos. A crítica se refere à falta de medidas efetivas para conter a degradação ambiental e promover adaptação climática nesses locais.

A COP-27, que ocorreu ano passado, recebeu críticas por isso, especialmente por ter enfraquecido o Acordo de Paris, na visão da rede. “A COP 27 deixou um gosto agridoce na boca dos ativistas climáticos, à medida que existiram alguns avanços, mas não o suficiente e também não tão alinhados com a visão de justiça climática”, protestam os ativistas.

Para esta edição, o movimento espera um debate mais justo e que “as nações ricas que não honram seus compromissos financeiros relacionados à crise climática não tenham autoridade moral para pressionar países mais pobres”.

“As nações em desenvolvimento enfrentam desafios significativos, como erradicar a pobreza, promover o desenvolvimento verde e lidar com desastres climáticos, e merecem apoio sólido ao invés de pressão indevida."

Expectativas para a COP-28

O evento deste ano se divide em contradições: A COP-28 vai ser presidida pelo CEO de uma empresa de petróleo, Sultan Ahmed al-Jaber e “isso se torna um conflito de interesses, ainda mais quando pensamos nos impactos que este setor acarreta na crise climática”, argumenta a organização. 

O local também é motivo de preocupação para os ativistas. A conferência vai acontecer nos Emirados Árabes, país que possui leis rígidas contra manifestações públicas, o que “causa um ambiente de insegurança para realizar intervenções”.

Apesar de o cenário não favorecer altas expectativas, a delegação afirma que, devido às últimas movimentações sobre o debate, como a votação histórica na Assembleia da ONU que decidiu adotar a resolução sobre responsabilidade dos países mais poluidores para agir pela justiça climática, “essa conferência abre um espaço de oportunidades únicas para o ativismo do Sul Global e para que se mudem os rumos das negociações climáticas globais até então”.

Analisando o contexto brasileiro, a delegação alerta que “enfrentamos um campo político tenso, com ameaças e tentativas de retrocesso pelo Congresso Nacional em relação aos ministérios de proteção ao meio ambiente e aos povos que lutam por um planeta saudável”.

Conheça a delegação

Mirela Coelho (22 anos, Feira de Santana - BA): Mulher preta do Agreste baiano, Mirela é bacharel em Energia e Sustentabilidade pela UFRB e trabalha desde a adolescência em ações e projetos focados em proteção da biodiversidade e recursos hídricos. Hoje, atua como coordenadora do grupo de Mudanças Climáticas do Engajamundo, “entendendo o papel da mobilização das juventudes brasileiras no combate à crise climática”.

José Mateus Rodrigues (27 anos, São Paulo - SP): Da Zona Leste de São Paulo, é gestor ambiental formado pela USP e MBA em Economia e Gestão da Sustentabilidade pela UFRJ. Atua na área cultural e educacional a partir do olhar socioambiental do cinema na OSC Ecofalante. Integra o grupo de trabalho de Mudanças Climáticas do Engajamundo e está na coordenação da delegação do Engaja para a COP-28.

Samara Assunção (23 anos, Feira de Santana - BA): Bacharel em Energia e Sustentabilidade e estudante de Engenharia de Energias pela UFRB, Samara também é artista, comunicadora e profissional do audiovisual. Integra o Grupo de Trabalho de Mudanças Climáticas do Engajamundo e atualmente coordena a delegação do Engaja para a COP-28, “lutando enquanto houver injustiças”.

Jaciara Borari (27 anos, Alter do Chão - PA): Nascida na aldeia de Alter do Chão, povo Borari, Jaciara é comunicadora indígena, fotógrafa, produtora audiovisual e ativista. Faz parte da Diretoria da Associação de Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós, que busca combater a violência e o racismo contra a mulher indígena, e também é percussionista no grupo musical Suraras do Tapajós. No Engajamundo, é Articuladora Nacional no GT Mudanças Climáticas. Cursa antropologia na Universidade Federal do Oeste do Pará.

Paulo Glavão (20 anos, Santarém - PA):  Nascido no Tapajós, atualmente mora no sudeste, ecoando as vozes das juventudes da Amazônia, pautando justiça climática, social e a soberania dos povos e floresta em eventos e espaços públicos. É estudante de Relações Internacionais - FCHS - Unesp, ativista indígena, socioambiental e climático. Também é músico, produtor cultural e comunicador popular. É Articular Nacional do Engajamundo no GT Mudanças Climáticas. 

Daniela Marques (28 anos, Rio de Janeiro - RJ): Gonçalense em terras cariocas, é formada em Ciências Ambientais pela Unirio, onde pesquisou os impactos socioambientais das mudanças climáticas na Região Metropolitana do RJ. É Articuladora Nacional do Engaja e também integra a Coalização Ação Feminista pela Justiça Climática da ONU Mulheres.

Heitor Scaff (29, Belém - PA): Paraense morando em SP, Heitor é ativista climático há mais de dez anos e representou a juventude brasileira pelo Engaja na COP-27. É mestrando em Ciências da Comunicação na USP e tenta juntar sua experiência de trabalho na indústria tech, ativismo climático e comunicação em favor da justiça e educação climática. 

Luana Souza (20, São Luís - MA): Criada em um bairro periférico em São Luís, Luana é graduanda em Arquitetura e Urbanismo, pesquisadora e ativista socioambiental. Desde 2020 exerce o papel de Articuladora Nacional pelo Engaja e agora faz parte da delegação da COP-28. Tem atuação em projetos ambientais dentro de sua cidade, abordando questões como racismo ambiental, preservação do meio ambiente, gestão de resíduos sólidos, educação ambiental e direito à cidade.

Jaiane Bruna (21, União dos Palmares - AL): Jovem preta, da periferia do interior de Alagoas, Jaiane é ativista por justiça climática e racial. Participa dos GT Mudanças Climáticas e Gênero. É Creator no Coletivo Lentes Pretas e acredita na força das juventudes controlando as narrativas de seu futuro e transformando a realidade de seu território.

Estefane Galvão (22, Satarém - PA): Estudante de Gestão Ambiental na Universidade Federal do Oeste do Pará, também integra a Associação de Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós e é multi-instrumentista, onde leva a música como ferramenta de luta.

Joana Gabriela (24, Salvador - BA): Nascida e criada em Salvador, Bahia, Joana estuda Engenharia Florestal na Universidade de São Paulo. Se entendeu ativita por volta dos 16 anos e desde então atua no terceiro setor com educação ambiental e projetos de impacto socioambiental, sempre tratando questões de raça e gênero. Também atua na organização LCOY Brasil,  é coordenadora do GT Biodiversidade 2022 e articuladora do Global Youth Biodiversity Network

Endrew Almeida (21, Macaé - RJ): Homem preto, pesquisador em Direito pela Universidade Federal Fluminense. Atua como ponto focal do GT Cidades e Comunidades Sustentáveis e da Casa Mata Atlatica, “visando a promoção da justiça climática”. Também atua com a pauta racial, no movimento negro, por meio do coletivo Lentes Pretas, o qual é fundador e diretor executivo, e trabalha com representatividade, empoderamento e ancestralidade.

Isabelle Flávia (22, São Paulo - SP): Bacharel em Relações Internacionais com foco de pesquisa nos campos de clima e energia, atuou ao longo dos últimos três anos integrando a delegação da COP no Engaja. Dedica-se em buscar direitos e avanços para os países e pessoas da América Latina. Com seu conhecimento e paixão pelo tema, Isabelle é uma voz ativa na defesa de políticas e medidas que promovem a sustentabilidade e a justiça climática.

Leo Kaiabi (28, Aldeia do Pequizal, Xingu - MT): Indígena do território do Xingu, desde muito jovem se preocupa com as florestas e os rios, e hoje tem o papel de falar da importância de seu território e de preservar a natureza, já que nela seu povo encontra alimentos e remédios tradicionais. Atuou fazendo palestras sobre mudanças climáticas e cuidados com o meio ambiente, sempre seguindo os passos das lideranças Xinguanas e levando energia para outros jovens.

Para conseguir levar todos os integrantes, a rede conta com a ajuda de uma “vaquinha” online para arcar com os custos de transporte e acomodação.

Engajamundo

A rede de ativismo jovem se dedica às pautas de Justiça Climática, Gênero e Desenvolvimento Sustentável e já participou de nove Conferências das Partes. Reúne juventudes de diversas partes do país para realizar ações de mobilização presencial e online, e gerar impacto nas políticas públicas.