ESTADO LAICO

Pastor Henrique Vieira detona fundamentalistas na Câmara: "Estado não é extensão da igreja"

A votação do relatório do PL que visa proibir o casamento civil LGBT foi novamente adiada e uma audiência pública convocada

Pastor Henrique Vieira detona fundamentalistas na Câmara: "Estado não é extensão da igreja".Créditos: Reprodução redes sociais
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O deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), durante sessão da Comissão de Previdência e Família da Câmara dos Deputados, realizada nesta terça-feira (19) deu uma aula aos parlamentares fundamentalistas sobre o que é o Estado moderno e o seu principal valor: a laicidade, ou seja, o direito garantido de profissão de fé, seja ela qual for.

A Comissão se reuniu para votar o relatório do Projeto de Lei 5167/2009, de autoria dos deputados Capitão Assumção (PSB-ES) e Paes de Lira (PTC-SP) que visa proibir o casamento civil LGBT. Após mais de 4 horas de discussão, chegou-se a um acordo: antes da votação, uma audiência pública foi convocada para a próxima terça-feira (26).

“O Estado não é extensão da igreja” 

Em uma de suas intervenções, o deputado Pastor Henrique Vieira expôs a hipocrisia dos deputados da extrema direita e afirmou que utilizar a "paixão cristã" para fazer política é algo "violento".

O deputado também enfatizou que "existem milhares de LGBT que amam o evangelho e amam quem são. É importante dizer isso. Esse discurso [fundamentalista] não monopoliza o cristianismo".

"Dentro da dinâmica do Estado laico e da democracia, qual é o sentido de pegar isso [entendimento de família a partir de valores religiosos] e, por meio do Estado e da regulação jurídica, impor isso ao conjunto da população? Isso é violento. Isso é arbitrário", disse Vieira.

Em seguida, o pastor expõe os fundamentalistas a um exercício de hipocrisia. "Se querem pensar desse jeito, pensem, mas não podem pegar isso e utilizar o Estado para, por meio da Lei, negar o direito do outro. Isso é completamente contrário à lógica do Estado laico, que pressupõe liberdade religiosa, diversidade religiosa e o respeito à não crença religiosa. Entre a crença e a Constituição, entre o que ela crê e o Código Civil, entre o que ela crê e o direito que outras pessoas têm, há uma diferença. Querem crer dessa forma? Creiam, mas eu lamento."

Posteriormente, Vieira destaca que a dita paixão religiosa dos fundamentalistas não é unânime entre as igrejas.

"Não podem pegar essa paixão religiosa, que sequer é unanimidade dentro do cristianismo, e transformá-la em Lei. Isso é arbitrário, isso é violento. É pegar uma doutrina religiosa e não reconhecer o direito do outro diante do Estado. Se uma determinada igreja não concorda, por que não são todas, é só não celebrar, mas o Estado não pode ser a extensão da igreja. Inclusive, essa é uma reivindicação histórica do protestantismo: o Estado é o Estado e a igreja é a igreja. Não é casamento religioso, é casamento civil. Por que impedir que o outro, diante do Estado, tenha o seu direito reconhecido? Que obsessão é essa? De negar o direito ao outro”. 

 

Confira a fala do deputado Pastor Henrique Vieira no vídeo abaixo: