EMPREGA COMUNIDADES

Evento em favela destaca ausência de pessoas LGBTQIAP+ em cargos de liderança

Atividade do "Emprega Comunidades" aconteceu em Paraisópolis, segunda maior favela de São Paulo, e trouxe temas importantes como empregabilidade, educação e segurança

Créditos: Rebeca Motta
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Nesta quarta-feira (28), Dia Internacional do Orgulho, o Emprega Comunidades, iniciativa que conecta empresas com pessoas que estão desempregadas, realizou em Paraisópolis, segunda maior favela de São Paulo (SP), a segunda edição do DiverCidade, evento que busca promover a inclusão de pessoas LGBTQIAP+ no mercado de trabalho, apresentar profissionais em cargos de liderança em vários seguimentos, além de discutir o papel das empresas na manutenção da falta de acesso desta população ao mercado de trabalho. 

Segundo uma pesquisa realizada pela Enlancers sobre recrutamento e seleção, 1 em cada 5 empresas não contrataria homossexuais e 33% delas não contrataria pessoas LGBTQIAP+ para cargos de chefia. 90% das pessoas trans está na prostituição, ao passo que a expectativa de vida desta população não ultrapassa os 35 anos, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (ANTRA). 

Apesar dos números chocantes que revelam a quantidade de violências a que a população LGBTQIAPN+ está sujeita, o gerente de projetos do Instituto de Pesquisas Favela Diz, Paulo Sodré, afirma que é importante abordar os números positivos que revelam que as mudanças começaram.

“Somos o país que mais mata mulheres trans e isto é uma realidade que precisa ser combatida, mas  acredito que temos que dar visibilidade para os números positivos de toda a nossa luta. É importante começar a enxergar os resultados dela e como somos capacitados para ocupar posições de liderança e que nossos corpos podem ocupar um lugar de sucesso corporativo”, declara.

No geral, 10% dos funcionários se autodeclaram LGBTQIAP+. Além disso, no recorte de funcionários em cargos de liderança, 8% são LGBTQIAP+. Em cargos de presidência, 6% se autodeclaram LGBTQIAP+. Para ativistas e militantes, é  importante que estas pessoas, além de contratadas, possam ter voz e se assumir abertamente, caso se sintam confortáveis para isso. 

Foto: Rebeca Motta

Lolla Veiga é assessora de comunicação do Emprega Comunidades e idealizadora do evento. A comunicóloga conta que a ideia da atividade é tirar o estereótipo de que pessoas LGBTQIAP+ só podem ocupar cargos de prostituição ou atuar em áreas da beleza. “Trazer gestores e pessoas profissionalizadas renova expectativa de avanços sociais. A ideia não é romantizar nada, não é meritocracia, mas mostrar que apesar das dificuldades é possível conquistar esses espaços", pontua.

Um dos parceiros do evento é a ONG Espaço Urbano, que atua com diversos eixos, como diversidade, sustentabilidade, ESG, voluntariado corporativo e ações sociais de assistência de promoção social. “Há uma demanda educacional e de empregabilidade muito grande, principalmente quando a gente pensa na nossa comunidade. O que estamos construindo aqui é uma rede para desenvolver uma educação humanizada, personalizada que leve um acesso efetivo à cidadania, e logo, a empregabilidade. Nosso projeto visa uma educação que abrace todas as demandas do local, sempre com foco no empoderamento e acesso à políticas de geração de renda”, conta Vinicius Coimbra, responsável pelo projeto Espaço Diversidade.  

“O que eu tentei trazer na palestra é que tem algumas questões que são tão básicas que às vezes passam despercebidas. Nós precisamos incluir pessoas trans no mercado de trabalho, no acesso à universidade, mas deve-se pensar também na segurança do trajeto dessa pessoa. Como um profissional pansexual, já fui assediado por clientes gays, enquanto clientes héteros não se aproximavam por achar que eu pudesse 'dar em cima'", conta Kawê Veronesi, relações-públicas. 

Kawê, que atua com agenciamento de carreira com foco na diversidade, fala ainda sobre a importância de levar a comunidade pelos lugares que ocupa. “Não estou em um lugar de gestão, de liderança sem trazer alguém junto comigo. Hoje como posicionamento profissional eu só trabalho com pessoas LGBTQIAPN+, negras e periféricas. Escolhi como essência profissional dar sentido a toda essa luta. Sempre estive sozinho e de tanto estar sozinho, eu me aquilombei”, conclui.