O Centro Municipal de Cidadania LGBT de Natal (RN), equipamento público que atua no atendimento e promoção de direitos voltados à população LGBT, recebeu ameaças de um grupo neonazista. A informação foi divulgada nesta sexta-feira (4) pela Agência Saiba Mais.
As ameaças foram feitas em fevereiro. À Fórum, a deputada federal Natália Bonavides (PT-RN) informou que o centro LGBT recebeu essas ameaças através de fotos, áudios e mensagens com "conteúdo neonazista no WhatsApp". Fórum apurou ainda que o próprio autor da mensagem teria se identificado como membro de um grupo neonazi.
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Por conta dessas mensagens, a direção do local solicitou patrulhamento do local à Guarda Municipal de Natal, que acatou o pedido nesta quinta-feira (3) e vai realizar rondas na região 24 horas por dia.
O Centro de Cidadania LGBT registrou boletim de ocorrência e o caso já está sob investigação da Polícia Civil. O inquérito foi aberto pela 5ª Delegacia de Polícia de Natal, que apura denúncias de ameaças de morte e homofobia. Além disso, Natália Bonavides informou que vai acionar o Ministério Público para que os autores das ameaças sejam identificados e punidos.
Fórum entrou em contato com a Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtas) de Natal para obter um posicionamento sobre o ocorrido, já que o centro LGBT faz parte do bojo da pasta. A assessoria da secretaria informou que "tomou todas as medidas necessárias junto das outras secretarias responsáveis".
Já o próprio Centro Municipal de Cidadania LGBT informou, em nota enviada à Fórum, "que de fato recebeu por meio de ligações as ameaças direcionando ao equipamento municipal, mas que de imediato foi comunicado aos órgãos e às autoridades responsáveis do município. As secretarias responsáveis pelo órgão tomaram as devidas providências administrativas e policiais para garantir a integridade dos profissionais e dos usuários do equipamento. O assunto agora está sob investigação".
Em dezembro do ano passado, em meio a uma operação nacional contra grupos neonazistas, a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão em três endereços do Rio Grande do Norte.
Neonazismo cresce no Brasil
A cientista social, antropóloga e pesquisadora Adriana Dias, que dedica sua vida ao estudo do avanço dos grupos neonazistas no mundo e, especialmente no Brasil, divulgou recentemente dados preocupantes sobre o tema.
“Somente em 2021, quase 1 milhão de pessoas leram material neonazista”, declarou, em entrevista à edição de 18 de janeiro do Fórum Onze e Meia.
Além da leitura, esse conteúdo acabou sendo propagado de diversas formas, principalmente por meio das redes sociais, inclusive estimulado por Jair Bolsonaro (PL), que nutre uma ligação antiga com esses grupos.
Outro número assustador, segundo Adriana, é que hoje há 530 células de 52 grupos neonazistas. Isso representa que há focos “em quase todos os estados do Brasil”.
De acordo com as pesquisas da antropóloga, esses focos não param de crescer. Em 2009, em função de brigas entre eles, os dois principais grupos neonazistas em atividade no país tinham recuado e as células se desligaram.
“Era o momento de destruir o neonazismo no país, mas nada foi feito. Em 2011, os grupos que restavam organizaram uma passeata no Masp (Museu de Arte de São Paulo) pró-Bolsonaro. A partir daí eles voltaram à cena nacional, criaram uma ligação forte com Bolsonaro e passaram a crescer 60% ao ano”, relatou Adriana.
Ela contou, ainda, que hoje esse crescimento é de 150% ao ano. “Perdeu-se o controle da ameaça que isso representa”.