O Grupo Arco-Íris, organização não governamental (ONG) com sede no Rio de Janeiro, decidiu interpelar judicialmente o Clube de Regatas do Flamengo pela ausência da camisa número 24 em seu elenco que vai disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior, em janeiro de 2022.
A entidade LGBTQIAP+ questionou o clube carioca se existe algum tipo de recomendação por parte da Federação Paulista de Futebol, que é a organizadora do torneio, da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) ou da Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa) para a exclusão do número 24.
A competição reunirá jovens de vários clubes brasileiros e está prevista para ocorrer entre os dias 2 e 25 de janeiro, em diversas cidades do estado de São Paulo.
No documento protocolado na Justiça, o Grupo Arco-Íris, que tem sua agenda pautada por temas relacionados à causa LGBTQIAP+, ressalta as elevadas e tristes estatísticas de crimes de homofobia ocorridos no Brasil nos últimos anos. "Como é de conhecimento público, o número 24 é associado pejorativamente ao 'veado', animal do Jogo do Bicho".
“O Flamengo, como um dos maiores times do país, deveria ter responsabilidade social na luta contra a homofobia e agir de forma menos machista ou preconceituosa. Deveria usar do potencial de alcançar os mais diversos públicos, homens e mulheres, ricos e pobres, adultos e jovens, para tentar fazer a diferença fora do campo”, aponta Cláudio Nascimento, presidente do Grupo Arco-Íris.
“Nem toda homofobia é explícita. Muitas vezes, está implícita e disfarçada. A imagem que fica marcada não é a de um eventual dirigente ou atleta com uma suposta prática homofóbica, mas uma eventual suposta prática de discriminação homofóbica institucional. O Grupo Arco-Íris, mais uma vez, cumpre seu papel institucional e constitucional de provocar esse debate público em defesa da cidadania”, destaca Nascimento.
“Postura reforça a prática discriminatória que existe no futebol brasileiro”, diz advogado
O advogado Carlos Nicodemos, que assessora juridicamente o Grupo Arco-Íris, afirma que “o Flamengo decidiu seguir o mesmo caminho que a CBF, que excluiu a camisa 24 durante a Copa América no Brasil este ano. Com essa postura, ambos reforçam a prática discriminatória que existe no futebol brasileiro”, ressalta.
“Não basta fazer posts nas redes sociais exaltando a diversidade e o respeito, é preciso colocar em prática com ações concretas. A depender da resposta do clube, vamos reportar o caso à Comissão de Ética da Fifa, assim como o fizemos em relação à seleção brasileira. Além do mais, não se trata apenas de um campeonato esportivo, mas, sim, de uma série de competições para adolescentes e jovens. Que coisas ensinaremos a essa juventude se o preconceito continuar enraizado no futebol?”, questiona Nicodemos.