Desde que retomou o poder do Afeganistão, em agosto desse ano, o Talibã, apesar das primeiras mensagens de que iria respeitar os direitos humanos, tem promovido a execução de mulheres que praticam esporte e de pessoas LGBT.
Logo que tomaram o Palácio presidencial em Cabul, inúmeros relatos de afegãos alertavam que o grupo não tinha mudado ou adotado um discurso mais moderado.
Um dos grupos mais perseguidos pelo Talibã é o LGBT, cuja punição no país é a morte: por apedrejamento ou derrubando um muro em cima da pessoa.
Por conta disso, o Reino Unido promoveu o resgate de dezenas de pessoas LGBT. O Ministério das Relações Exteriores organizou algumas operações em parceria com organizações que atuam em prol dos direitos das pessoas LGBT do Afeganistão.
Nesta sexta-feira (30), cerca de 29 afegãos chegaram ao Reino Unido. "Sob o regime dos talibãs, as pessoas LGBT estão as mais vulneráveis e muitas delas enfrentam altos níveis de perseguição e discriminação e ataques", declarou o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido.
“O Talibã está caçando e executando as pessoas LGBT”
Motivados pela ausência dessa questão, iniciamos uma pesquisa e, entre agosto e setembro fizemos contato com Artemis Akbari, afegão e gay que hoje vive na condição de refugiado na Turquia.
A história de Artemis pode ser contada na perspectiva fronteiriça e de fuga dos regimes islâmicos que, historicamente perseguem e punem com a morte as pessoas LGBT: nascido no Irã e fruto de uma família que fugiu do Afeganistão em 1986, por conta da primeira guerra promovida pelo Talibã, anos mais tarde, Artemis teve, também, que sair do território iraniano, pois, assim como no Afeganistão, a homossexualidade é um crime e um pecado nefando
Vivendo na Turquia, Artemis Akbari se juntou com outras pessoas LGBT do Afeganistão e do Irã e hoje fazem militância a partir da Radio Ranginkaman, ferramenta que utilizam para fazer contato com as pessoas LGBT afegãs e iranianas, bem como ajudá-las com dinheiro e a deixar os seus respectivos países.
Quando perguntamos sobre as declarações de líderes do Talibã sore terem mudado e que atualmente “respeitam os direitos humanos”, Artemis foi enfático e afirmou que eles estão mentindo. “Recentemente, um jurista do Talibã deu uma entrevista para um emissora alemã e nessa entrevista ele declarou que existem duas punições para os relacionamentos homossexuais: apedrejamento até a morte ou derrubar um muro em cima da pessoa”, declarou o ativista afegão.
"Em nossa rádio nós recebemos muitas mensagens da comunidade LGBT que vive no Afeganistão. A maioria das pessoas diz que estão com medo, que não sabem o que vai acontecer com eles no futuro. Eu tenho muitos amigos transgêneros no Afeganistão e eles não estão saindo de casa porque tem medo do Talibã. Eu tenho uma amiga lésbica que vive no Afeganistão que casou com o seu amigo gay porque o Talibã força as meninas jovens a casar com homens mais velhos e com seus soldados. Diante disso, eles se casaram para se protegerem do Talibã. Mas, a maioria dos meus amigos estão com medo”, disse o ativista afegão.