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A transexual Amara Moira, de 33 anos, defendeu a tese “A indeterminação de sentidos no Ulysses de James Joyce” e vê feito como significativo na guerra contra o preconceito.
Da Redação*
Primeira travesti a defender doutorado na Unicamp com seu nome social, Amara Moira, de 33 anos, vê o feito como um passo significativo na longa caminhada contra o preconceito. Ser reconhecida dentro do ambiente acadêmico é uma batalha vencida em meio a “guerra” que pessoas trans travam diariamente com a sociedade. “Foi um indício que a universidade aprendeu a se transformar para que pessoas como eu caibam ali”.
“A gente vai comemorar cada uma dessas vitórias, mas deixar claro que não vamos nos com tentar com elas”, avisa. Amara, que é autora do livro “E se eu fosse puta”, defendeu doutorado em teoria e crítica literária e contou que busca, com ajuda do conhecimento, quebrar barreiras. “Não quero viver em guerra com ninguém. Eu quero que as pessoas se acostumem a estar do meu lado e não a me ver como uma ameaça”, acrescenta.
A escritora reforça que sua luta é para quebrar paradigmas e acabar com rótulos atrelados às pessoas trans. “Não quero que me vejam como um pedaço de carne. Não quero ser assediada o tempo inteiro, mas também não quero ser vista como uma pessoa que vai dar uma facada ou roubar quem quer que seja. Essas são as narrativas que são atreladas à ideia da travesti”.
Contratada como professora de um cursinho on-line, Amara festejou ter comandado aula para todo o Brasil com quase 4 mil estudantes na noite da última quarta (7). “Foi uma experiência marcante, recebi inúmeras mensagens de como a aula foi 'incrível', e isso tudo marcou muito. Quero dar aulas que eu nunca pude ter. Aulas que apontem os elitismos, machismos e racismos dos grandes escritores, que convidem os estudantes a serem leitores críticos, que olhem de forma ampla para essas obras”.
Tese
Amara defendeu a tese “A indeterminação de sentidos no Ulysses de James Joyce”, na última terça-feira (6). A recepção “respeitosa” e “generosa” da banca serviu para mostrar que seu trabalho foi levado a sério pela universidade. “Foi bonito. Esperava um momento mais tenso, intimidador, mas foi interessante ver como a banca levou a sério meu trabalho, continuando debates que eu iniciei e colocando críticas de forma responsável e respeitosa”.
Essa mudança de conceitos que Amara sentiu dentro da universidade ela tenta passar agora como professora. “Quando esses alunos estão aprendendo a me ver como alguém capaz de ensiná-los, eles aprendem a ver outras narrativas sobre nós. Quando estão acostumados a imaginar que o único lugar que a gente pode habitar são as esquinas mal iluminadas das cidades, e começam a me ver na sala de aula, percebem que tem muita coisa a aprender comigo”. Para Amara, isso muda a forma como alunos vão ver outras pessoas trans a partir de agora. “Por isso é tão importante estar em todos os espaços e não somente às margens da sociedade”.
*Com informações do G1
Foto: Reprodução